A dança sempre esteve por perto. Paula de Maracajá conta que começou a se interessar pelo balé aos 8 anos, e aos 13 já tinha uma rotina de alta performance, bem diferente dos outros adolescentes. Praticava sob a batuta da carioca Eliana Karin, discípula da russa Tatiana Leskova. O talento, a autoconfiança e o profissionalismo precoce a levaram a Monte Carlo (Mônaco), onde viveu como bolsista por dois anos.
Depois da experiência internacional, ela escolheu encerrar o ciclo: “Apesar de o meu repertorio de balé clássico ser muito estudado, preferi ser uma artista brasileira a uma bailarina estrangeira”. De volta ao Brasil, Paula consolidou a carreira e se permitiu fluir por outros movimentos, como o da dança conceitual e o da contemporânea. “Dancei muito tempo entre as sapatilhas de ponta e as entradas no chão, dos meus 20 aos 42 anos, segui firme nesse propósito. A dança se tornou o meu lugar de fala, me deu a interlocução para dizer quem eu sou e de onde eu venho.”
Em 2011, a bailarina se converteu em “artevista” e foi convidada para estrear um projeto dentro do Instituto Penal Talavera Bruce. Foi ali que apresentou o solo inaugural de 1m X 1m, em uma área de confinamento, e criou o coletivo Em Silêncio, de apoio a pessoas atingidas pelo sistema criminal.
“A partir daquele momento, a minha trajetória caminhou para o lado artístico-pedagógico, oferecendo uma espécie de mecanismo de transferência social e multidisciplinar para aquelas mulheres afetadas pelo sistema punitivo. Deixou de ser um trabalho meramente experimental para se transformar em um recorte de excelência dentro da arte e do ativismo”, conta.
Paula se baseia na própria ancestralidade para trilhar o futuro, pontuada pela intuição de tudo o que não viu, mas que é capaz de sentir. “Estamos vivendo uma época de profunda transformação e a ancestralidade está aí para nos dar algumas ‘pistas’. Esse momento agora é o local de entendimento comprometido com as nossas mudanças, de um tempo que não voltará mais”, finaliza Paula de Maracajá.