Mulheres que Inspiram: Shirley Krenak discute o papel do feminismo em comunidades indígenas

Foto: Divulgação

Pertencente ao povo Krenak, Shirley Krenak, ativista e escritora formada em Comunicação Social, atualmente coordena o Instituto Shirley Krenak, que desenvolve diversas atividades nas áreas ambiental, educacional, social e cultural.

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Autora do livro “A Onça Protetora” e à frente do projeto “Sons que Curam”, cuja essência capta o cantarolar dos pássaros e os ruídos das matas, a fim de promover a cura do saber ouvir e o fortalecimento dos chamados da mãe terra, ela sabe que a sua luta também é focada na libertação feminina.

“O machismo está presente em todas as partes, inclusive dentro das comunidades indígenas. Infelizmente nós passamos por uma série de problemas por conta do estruturalismo patriarcal, mas fazemos o possível para valer o nosso olhar em relação ao mundo e levar adiante o discurso sobre a importância que nós, mulheres, temos na sociedade. Enquanto os homens dominarem os espaços, nós seremos subjugadas. A mulher é um ser dotado de muito saber e, mesmo enfrentando batalhas desproporcionais, ela encontra forças para continuar sonhando”, diz.

Esperançosa, Shirley acredita num futuro mais promissor, em que o papel da mulher será justamente o de curar a terra tão maltratada. “Nós somos o equilíbrio sobre essa terra, literalmente, ‘estuprada’. O nosso papel é o de reflorestar as mentes, plantar novas sementes, ecoar a sabedoria e gritar para o mundo inteiro: ‘Parem de nos matar! Chega de feminicídio! Respeitem-nos, por favor!”.

É movida pela certeza de que o corpo feminino deve ser protegido que ela aposta, cada vez mais, no processo instrutivo. “Os corpos – da mulher e da natureza – só serão salvos com educação. E é por isso que temos que investir em todas as áreas do conhecimento. Todos os povos indígenas já são empoderados para a luta. Nós já nascemos preparados para defender esse universo que o ‘Grande Mestre’ fez, já sabemos qual é a potência que tem um rio que corre sobre as nossas terras. A mulher indígena tem um poder enorme e centrado na visão coletiva de entendimento de pertencer à terra. É isso que nos mantêm de pé e que nos faz acreditar no futuro. A força dos nossos ancestrais – sobretudo, das guerreiras Krenak – nos conduz para a luta. Mas o chamado foi feito para nós, mulheres”, diz – e prossegue: “Quero viver o dia em que será possível nadar em um riacho sem minérios; conviver com o não indígena em paz. Quero ser aceita como mulher, ser ouvida em minha causa… Quero que o meu canto seja entoado, que a marcha do meu corpo seja seguida e que a minha pintura seja respeitada”.