
Atualmente, é muito questionado sobre o papel dos concursos de beleza e os efeitos que eles podem gerar em pessoas que não estão dentro dos padrões de beleza impostos pela sociedade. Mas sua influência ainda é muito presente na vida de algumas mulheres e, em situações como a da principal competição desta área que aconteceu neste ano, podem gerar resultados extremamente positivos.
A representatividade negra é um assunto muito sério e quando ligamos a televisão, abrimos uma revista ou observamos cargos de importância, essa parcela da sociedade (que não é a menor, ao contrário do que muitos pensam) ainda é pouco vista. Por isso, a festa foi tão grande quando Zozibini Tunzi levou a coroa no Miss Universo 2019. Nascida em Tsolo, Cabo Oriantals, a musa foi a quinta mulher negra a ganhar o concurso, além de ser a terceira Miss África do Sul ao ocupar esse lugar no pódio – seguindo os passos de Margaret Gardiner e Demi-Leigh Nel-Peter, ganhadoras em 1978 e 2017, respectivamente.
Filha de Philiswa Nadapu e Lungisa Tunzi, Zozibini é uma de três irmãs e cresceu em uma vila vizinha à cidade que nasceu, chamada Sidwadweni. Anos mais tarde, se mudou para a Cidade do Cabo para cursar a Universidade de Tecnologia da Península do Cabo, se formando em relações públicas e gerenciamento de imagens, em 2018. Antes de ganhar o Miss África do Sul, Tunzi estava se graduando em Gerenciamento de Relações Públicas na Cape Peninsula University of Technology.

Diferente de muitas misses que fazem uma longa carreira, desde crianças, neste universo, Zozibini entrou para o mundo dos concursos em 2017, quando foi aceita como uma das 26 finalistas do Miss África do Sul 2017, mas não passou para a fase das finalistas. Ela voltou para competir na edição do concurso de 2019 e levou o prêmio no dia 9 de agosto. Desde o início a musa foi uma das preferidas do Miss Universo e marcou com sua imagem forte e importante.
“Cresci em um mundo onde mulheres como eu, com a minha pele e com o meu cabelo, nunca foram consideradas bonitas. Já chegou a hora de parar com isso. Quero que as crianças olhem para mim e vejam seus rostos refletidos no meu”, afirmou quando questionada sobre como atuaria caso vencesse o concurso. Além da representatividade negra, Zozibini Tunzi levantou outra bandeira muito importante: a da aceitação dos cabelos crespos e cacheados.

Em meio a um processo de transição capilar, a miss decidiu cortar os fios bem curtos, por isso, participou do concurso com um corte joãozinho e os fios crespos, se destacando em meio as outras disputantes que sempre apostam em longas madeixas. “Foi a melhor decisão que já tomei, porque me sinto muito livre. Antes de cortar o cabelo, fiquei com medo de não ser bonita, principalmente por causa dos padrões sociais do que é a beleza. Quando cortei, no entanto, percebi o quão incrível ele é, mais bonito do que pensava”, contou Zozibini.
Quando questionada sobre a coisa mais importante que as mulheres devem aprender nos dias de hoje, Zozibini Tunzi deixou o mundo com mais uma lição: “Acho que a coisa mais importante que deveríamos estar ensinando jovens mulheres hoje é a liderança. É algo que falta às mulheres e meninas há muito tempo, não porque elas não a desejavam, mas por causa de como a sociedade rotulou como elas deveriam ser. Acho que nós somos os seres mais poderosos que existem no mundo, que deveríamos ser dadas todas as oportunidades e que deveríamos estar ensinando estas meninas a ocupar espaço. Nada é mais importante do que ocupar espaço na sociedade e se consolidar”.
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