Por Catrina Carta Kowarick
Ines Coelho Keutgen, carioca com um pé no Brasil e outro no mundo, uniu a paixão pela arte ao talento de conectar marcas, ideias e pessoas. Ela é co-fundadora do MUMA, projeto pedagógico que estimula a criatividade e o pensamento crítico por meio da arte. Em entrevista à Bazaar, ela conta como surgiu a ideia e como funciona a iniciativa – leia abaixo:
Harper’s Bazaar Brasil – Ines, me conta, como tudo começou?
Ines Coelho Keutgen – Sou formada em Fine Arts pela Sothebys, mas, desde muito cedo, trabalhei com PR focado em lifestyle e network, conectando marcas e pessoas. Depois de 14 anos em Londres, fui para Nova York, onde fundei a NY Connect, que mantive por dois anos, até ir morar em São Paulo.
HBB – Foi quando você tocou a Tofiq House (galeria de arte nos Jardins, em São Paulo, que ficou aberta de 2013 a 2016), certo? Como começou?
ICK – Quando conheci o Nicolas (Keutgen, seu marido, nascido na Bélgic, ) ele estava de mudança para São Paulo. Nicolas é empresário e engenheiro, mas a paixão dele sempre foi arte. O intuito dele com a Tofiq era aproximar o diálogo e encontros entre colecionadores e curadores com jovens artistas, em um espaço em que as trocas pudessem ser menos engessadas, mais espontâneas e orgânicas. Vários artistas que fizeram residência lá, hoje em dia estão em um patamar profissional muito legal, como é o caso do Jaime Laureano, atualmente representado pela Nara Roesler, e com exposição em NY.
HBB – Qual era o seu papel lá dentro?
ICK – Ele me chamou para fazer uma breve consultoria e eu acabei ficando e fazendo o que eu mais gosto: trabalhar no relacionamento com marcas, criar eventos e parcerias. Meu papel é sempre com branding, com marcas e pessoas dentro da arte.
HBB – Entre os projetos que você fez lá, qual foi o que você mais gostou?
ICK – Desenvolvi cursos para iniciantes em arte, acredito que a cultura é uma das coisas mais importantes que temos, pois é o que nos une e o que faz nos identificarmos como uma nação. É nosso dever cuidar dela. Por isso, digo que a compra de uma obra de arte, por exemplo, é um pedaço do universo da arte, mas não é um ponto final.
HBB – E agora você está morando em Portugal com um novo projeto, o MUMA (Mum’s and Arts), como essa ideia surgiu?
ICK – Na pandemia tive dois filhos. Nunca pensei que fosse ser o tipo de mulher que, quando os filhos nascem, tem a ideia de abrir algum empreendimento com a temática infantil, mas mordi minha língua (risos). Fiquei me questionando como é a maternidade nos dias de hoje e como eu poderia incorporar o universo cultural e artístico no dia a dia das crianças, como um tema que os engajasse e que eles absorvessem. Além disso, estava bastante preocupada com os efeitos da pandemia, com a falta de interação física, e no excesso de tecnologia e ferramentas de AI – existem diversos estudos e matérias que falam sobre os perigos das telas para o desenvolvimento lógico e cognitivo infantil. Encontrei no MUMA uma maneira lúdica de estimular, por meio da arte, o desenvolvimento do pensamento crítico e criativo nas crianças.
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HBB – E na prática, como isso funciona?
ICK – É basicamente um Art Lab, onde eu cuido da área de marketing, parcerias e networking; a Selin Bem Mehrez, minha sócia, da área de conteúdo; e temos a Mara Freire, uma pedagoga especializada em aprendizado positivo e escola moderna (em que o professor é um facilitador do aprendizado e não assume papel autoritário). A Selin e a Mara desenvolveram uma metodologia patenteada como MUMA Method, em que escolhemos um artista para apresentar para crianças de dois a dez anos. A partir dele, elas são imersas em texturas, sons e materiais de arte que estimulam seus interesses e curiosidades, possibilitando aprender sobre formas, ângulos e cores por meio da música, dança, escultura, pintura…
HBB – E como foi desenhado este projeto didaticamente?
ICK – O MUMA foi um projeto que demorou alguns anos para ser concretizado… A Selin trouxe todo seu conhecimento teórico sobre as artes plásticas e agregou com a formação pedagógica da Mara para a criação metodológica. Além da experiência e profissionalismo de ambas, mergulhamos em diversos estudos e iniciativas que comprovam que incentivar a imaginação e a criatividade das crianças funciona como catalisador para transformar conhecimento em insights, ideias e maneiras de concretizá-las. Na Universidade Harvard, por exemplo, existe um departamento de estudo específico que analisa o impacto da AI em crianças e a importância de estimular os trabalhos manuais na formação do cérebro delas. Em Londres, a princesa Kate Middleton é uma grande patronesse de arte e, em julho do ano passado, ela participou da inauguração do V&A Museum of Childhood, voltado exclusivamente para crianças. Meu sogro é um pediatra muito respeitado na Bélgica, troquei muito com ele…
HBB – E o que você espera que as crianças que participam do MUMA absorvam a curto e a longo prazos?
ICK – A sensação de pertencimento que nós carregamos quando recebemos uma herança cultural. O conhecimento tem um poder mais forte e importante do que podemos imaginar. Eu espero que estas crianças se tornem engajadas, que seja possível desmistificar a ideia de que a arte é apenas para os privilegiados. Isso é não apenas necessário, como urgente. Você não consegue comprar pensamento crítico se ele não é exercido, tampouco é adquirido.
HBB – Quais são os planos de expansão do MUMA?
ICK – Em breve estaremos chegando no Brasil! Além disso, temos o projeto de conseguir colaborar com escolas públicas.