Há uma revolução silenciosa em curso, mas que está sendo ouvida em alto e bom som por quem realmente precisa dela. Falo dos aparelhos auditivos, cada vez mais modernos e eficientes. Um alento para pessoas que, como eu, sofrem com a perda auditiva.
Minha história começou há cerca de 7 anos e não foi notada por mim, mas por pessoas da minha convivência. De repente, o volume do rádio do carro ficou alto demais. Comecei a passar por mal-educada ao não responder quando me chamavam pelo nome. Me desligava facilmente de uma conversa em um ambiente barulhento e batia o desespero em reuniões de trabalho em que nenhuma informação pode passar batida. O que era algo ocasional começou a ficar cada vez mais frequente e intenso. Quando o volume do fone de ouvido subiu para o máximo e um zumbido passou a me atormentar, resolvi buscar ajuda médica.
Uma audiometria revelou uma perda moderada, enquanto a tomografia revelou a sua origem: otosclerose foi o diagnóstico, uma doença associada à idade e que provoca a perda gradual da audição, mas que veio precocemente no meu caso. Demorei mais de dois anos para aceitar que precisava usar um aparelho auditivo. Tive muita resistência. Como esconder a surdez das outras pessoas? Jamais poderia prender o cabelo porque o aparelho ficaria visível? Até que a perda aumentou ainda mais, a ponto de eu ter de fazer leitura labial para assimilar certos tons de voz que para mim já eram inaudíveis. Era hora de deixar de lado o preconceito, assumir meu distúrbio e adotar uma prótese auditiva.
Num primeiro momento, testei alguns aparelhos até me adaptar. Uma das maiores dificuldades é diferenciar os sons em ambientes barulhentos e conseguir interagir com diferentes pessoas falando ao mesmo tempo. Imagine isso em um jantar, festa ou reunião de negócios… As próteses auditivas disponíveis no mercado focam na fala do interlocutor que está à frente. Fica difícil acompanhar as conversas paralelas e é quase impossível ouvir os sons de fundo – fundamentais para uma audição mais natural. O som artificial metálico de algumas próteses convencionais também me incomodava.
Não foi um processo fácil, mas qualquer coisa é melhor do que não ouvir. Já escapei de situações sérias, como não dar passagem a uma ambulância por estar com rádio do carro ligado em volume muito alto ou não atender a chamados noturnos do meu filho. Também aconteceu de tomar café de uma térmica com cacos de vidro, que explodiu inesperadamente, apenas por não ouvir os estilhaços dentro dela. Cenas corriqueiras, mas que podem acabar mal.
Livrar-me do preconceito (interno) foi apenas o primeiro passo. A adaptação ao novo jeito de ouvir, com a ajuda da tecnologia, foi o segundo. E já estou num momento de testar as novidades, cada vez mais atraentes, desse mercado.
Quando pensamos em aparelho auditivo, imaginamos um amplificador de som interno. Simples assim. Mas ele não é nenhuma coisa nem outra. É uma tecnologia tão avançada que funciona como um cérebro artificial, que estimula a audição que queremos ter e desconecta os sons e ruídos de fundo. Sabe o cachorro latindo lá longe na rua? Imagine aumentar esse volume na mesma intensidade de quem fala na sua frente? Juntar isso com o barulho do motor da geladeira e do ar-condicionado, por exemplo, sem discriminar a ordem de importância de cada um deles seria um pesadelo. O que nosso cérebro faz é orquestrar os sons por ordem de importância – e é exatamente o que fazem os aparelhos auditivos modernos.
Testei o Oticon More, da Telex Soluções Auditivas, o mais revolucionário dos aparelhos, fruto de intensa pesquisa e tecnologia – mais de 12 milhões de sons da vida real foram captadas durante os testes. Ele é capaz de captar a cena sonora completa, ajudando o cérebro a trabalhar naturalmente, com mais informações de tudo o que está acontecendo ao seu redor. É o primeiro aparelho auditivo a dar uma perspectiva completa do som ambiente.
O Oticon More é hoje o que chega mais próximo do processamento auditivo natural. Tem uma tecnologia batizada de BrainHearing, projetada para dar suporte ao cérebro. Mantém os sons em perfeito equilíbrio, graças a um microfone esférico de 360 graus. Reconhece sons de todos os tipos e complexidades em detalhes que mimetizam a forma como o cérebro funciona. Além disso, seu sistema de conectividade com smartphones é impressionante (funciona como um airpod!). Para mim, substituiu o fone de corrida surpreendentemente bem. Com o adaptador de TV da Oticon, é possível transmitir o som diretamente da televisão para o aparelho auditivo.
A prótese ainda tem a vantagem de ser recarregável para um dia inteiro de uso, sem a necessidade de trocar (e comprar!) baterias. O meio ambiente – e nossos ouvidos – agradecem! Testar o Oticon More foi uma experiência disruptiva, a sensação de voltar a ouvir como antes, sem ter que interromper o interlocutor de tempos em tempos: “pode repetir, por favor?”.