Patricia Carta apresenta a edição de outubro de 2023 da Bazaar

Escrevo em meio ao corre dos desfiles de moda em Paris. Por aqui, já se sabe que uma das principais mensagens das semanas europeias inclui o resgate histórico por meio de peças que abraçam a identidade das marcas (tema da Bazaar de outubro).

Exaltar a essência de cada uma, imprimir o que as tornam originais foi tarefa bem realizada nessa season. Esse rastreio explica, em parte, o desejo pelo minimalismo que assola as últimas temporadas.

O estilo que reinou nos anos 1990 e surgiu como contraponto à opulência da década anterior, se instaura novamente. Dessa vez, não só contra a pompa, mas, também, como saudosismo da era pré-redes sociais. Nas entrelinhas do vaivém nas passarelas, o estilo descomplicado nos transporta, no nosso imaginário fashion, trinta anos para trás em relação ao avanço tecnológico, exaustivo e sem freio, ao qual estamos submetidos hoje.

Faz sentido que as coleções estejam na contramão desse frenesi, que privilegiem discrição. Sem alarde, apenas no estilo, claro. Faz sentido também, que as marcas queiram se desfazer de excessivas camadas de informação e trazer à luz o que têm de mais caro e único. A Prada, por exemplo, refez a bolsa criada pelo avô de Miuccia, Mario Prada, em 1913. Explica-se também Sabato De Sarno ter usado, para a Gucci, os bordados em strass das clutches de 1950 nos tubinhos e tops do verão. Já na Balenciaga, Demna Gvasalia deixa o passado a cargo do freguês, que escolhe transportá-lo em uma clutch com forma de sapato, em uma pesada mala de mão, ou deixá-lo para trás e optar por um passaporte para o futuro.

Na Dior, tendo a arte povera como um dos pontos de partida, o essencial é o que sobra de uma dura jornada. São peças destruídas pelo tempo, de aspecto queimado ou puídas, desfiadas ou furadas. A busca pelo único, essencial e marcante se desdobra para outros campos, como sempre, claro. Mas, não bastam peças exclusivas para satisfazer o ego, queremos mais que isso.

O verão 2024, que maximiza o corpo e minimiza o tecido, por assim dizer, precisa incluir conforto e acolhimento; e, de certo modo, o faz. No entanto, genericamente falando, os desfiles pecam pela falta de diversidade e isso pode arrefecer nossas conquistas, o que não poderia acontecer.

Por trás do coolness da estação, há uma lição de casa a ser feita. Nas próximas páginas, elegemos mulheres que, por meio de singularidade e traços marcantes, acolhem cada uma e todas nós. Afinal, representatividade é o que queremos vestir.

P.S.: O fio condutor da edição, Incrível em Qualquer Idade, vale mais do que um exercício estilístico. Por essa razão extrapolou o papel e virou pauta para debate em evento próprio. Dá um double check nas nossas redes e deixe seu comentário, merci.