Rita Wainer é conhecida por seu trabalho colorido e traços únicos – Foto: Leonardo Araujo/Divulgação

Ela é filha de Pinky Wainer, neta de Danuza Leão e conquista paisagens e pessoas por aí – nem Madonna resistiu! Direto de Copacabana, Rita Wainer não faz o tipo “artista complicada”, mas também não abandona a terapia. Tanto quanto pintar, adora falar… Em entrevista à Bazaar, a artista fala sobre sua mudança para o Rio de Janeiro, tatuagens e suas experiências artísticas. Leia a íntegra do papo:

Guilherme de Beauharnais – Você é de São Paulo, mas se mudou para o Rio de Janeiro. queria fugir do quê?

Rita Wainer – De nada, acho! (risos) Eu vinha muito ao Rio a trabalho e meu irmão já morava aqui. O Rio é lindo e sempre me trouxe paz. Um dia, voltei para São Paulo e percebi que não havia a menor condição de continuar vivendo lá. Resolvi me mudar de um dia para o outro e vim com um amigo que topou fazer o mesmo. Chamamos de “Projeto Pen Drive”.

GBD – Pen drive?

RW – Sim! Na época que ainda existiam pen drives… (risos) O combinado era se mudar apenas com o que cabia em um pen drive.

GBD – E você conseguiu?

RW – Quase… trouxe minha cachorra também! (risos)

GBD – Ah! Não cabia mesmo no pen drive?

RW – Não. Era uma border collie!

GBD – E o rio… era tudo o que você esperava?

RW – O Rio mudou muito a minha relação com a arte. Acordar com o céu azul e o mar faz toda a diferença na minha existência e no meu funcionamento.

GBD – Não sai daí por nada?

RW – Só se tiver um tsunami. (risos)

GBD – Além do céu azul e do mar, o rio também tem uma cena noturna concorrida. Você frequenta a noite?

RW – Não. Em São Paulo, eu era mais gótica. Aqui, sou totalmente diurna. Vou para o mar todos os dias, tomar sol, malhar…

GBD – Rotina total, então?

RW – Sim. Quando saio dela, fico atordoada. Só trabalho depois de um mergulho.

Foto: Leonardo Araujo/Divulgação

GBD – O que significa ser artista para você?

RW – Não sei definir. É o meu trabalho. Eu não seria outra coisa. Quer dizer, já fui…

GBD – Estilista, certo?

RW – Isso.

GBD – Parou porque se desencantou com a moda?

RW – Não. Eu era estilista porque, desde muito cedo, eu queria vender meus desenhos. Mas ninguém ia comprar naquela época, resolvi colocar em camisetas e vender. Minha “pira” sempre foi desenhar.

GBD – Imagino que você trouxe muito disso de casa. Ter Pinky Wainer como mãe e Danuza Leão como avó já foi um peso para você?

RW – No início, sim. Hoje em dia, não mais. Entendo essas referências que tenho como um presente.

GBD – Falando em referências… quem é sua musa?

RW – Não consigo responder essa pergunta. São muitas e seria injusto dizer. Mas são todas mulheres.

GBD – Madonna é uma delas?

RW – Ah, com certeza! Ela me atravessou em um momento de infância e adolescência.

GBD – E você fez a intervenção artística ao redor do palco dela em Copacabana. um momento histórico da cultura pop!

RW – Foi um atropelamento maravilhoso! E, por acaso, o show foi em frente à minha casa. Ou seja, tive a Madonna no meu quintal! (risos)

GBD – O luxo! (risos)

RW – Foi muito importante para o Rio de Janeiro, os cariocas, a minha geração, as mulheres, os gays… Até minha manicure disse que trabalhou mais por conta da Madonna! (risos)

GBD – E o seu trabalho ganhou ainda mais repercussão por conta da diva. Mas com a repercussão, também vêm as críticas… como você lida com elas?

RW – Eu não estou nem aí para os meus haters. Tenho mais o que fazer!

GBD – Tipo?

RW – Ir para a esteira, correr! (risos)

GBD – Mas e com o seu próprio trabalho? É crítica?

RW – Sou a pessoa mais desprendida que conheço. Tudo o que eu faço é tão genuíno que não consigo ser insegura. A rua me trouxe essa consciência, tomo muito cuidado ao fazer minha arte em espaços públicos. É uma questão de respeito, sabe? Tento estudar e viver o lugar antes de pintar.

GBD – E depois que a arte fica pronta?

RW – Eu procuro não voltar lá nunca mais. (risos)

GBD – Por quê?

RW – Porque é melhor assim. (risos)

Foto: Leonardo Araujo/Divulgação

GBD – E não te incomoda o fato de que a arte urbana é efêmera? Um prédio, afinal, pode ser demolido ou sofrer com o clima…

RW – Não, porque acho que é assim mesmo. Quando vou para a rua, espero que a minha arte seja vivida por outras pessoas. Eu gosto mais do processo de fazer do que do resultado.

GBD – E dentro do ateliê? Tem a mesma preocupação?

RW – Menos. Faço para mim e, se alguém se interessar e comprar, é porque gostou e se sentiu tocada. Muita gente até tatua a minha arte!

GBD – Não diga! Aliás, você tem tatuagens?

RW – Um monte!

GBD – Qual você mais detesta?

RW – A primeira. Foi a pior! (risos)

GBD – Me conta!

RW – Eu tinha uns 14, 15 anos… é um cavalo-marinho tribal no pé. Muito horroroso! (risos) Por isso, sou contra.

GBD – Contra o quê?

RW – Jovens se tatuarem.

GBD – Ah! Mmas talvez fosse um sinal de que seu destino estava na praia, não?

RW – Precisava ser com um cavalo-marinho tribal?!

GBD – É… complicado.

RW – Tenho outra horrorosa também!

GBD – Qual?

RW – É uma lagartixa no meu braço.

GBD – Por que uma lagartixa?

RW – Ah, sei lá. De novo, eu era jovem… (risos)

GBD – Tem alguma de que você goste? (risos)

RW – Gosto das que eu fiz já adulta. São traços mais finos, alguns que eu mesmo desenho. E tenho uma da Frida também. Pirei na Frida Kahlo quando fui para o México!

GBD – Falando em viagens… imagino a burocracia para pintar em espaços públicos. Mas se tivesse passe livre para pintar qualquer lugar do mundo, o que seria?

RW – Com certeza não seria o Louvre! (risos)

GBD – por quê?

RW – Gosto de pintar lugares que transformam a vida das pessoas. Comunidades, por exemplo. É sobre dar uma nova vida, passar uma mensagem, ressignificar um espaço.

GBD – E sempre dá certo?

RW – Olha, uma vez eu pintei um mural em Paris. No dia seguinte, ele foi atropelado!

GBD – Não creio! (risos) Desculpa, eu não deveria estar rindo.

RW – Tudo bem. Foi o dia em que me libertei do ego. Viajei, pintei e passaram por cima. Faz parte! A rua é de todos.

GBD – As pessoas pedem para você explicar a sua arte?

RW – Muito! Mas eu não explico.

GBD – Por quê?

RW – Se explico, perde a graça. Tiro a fantasia do espectador, a interpretação. É questão de gostar ou não.

GBD – Qual o seu maior segredo como artista?

RW – É ter desapego. Ou melhor, liberdade! A verdade é que um artista nunca termina uma obra, só escolhe jogar para o mundo e começar a próxima.

GBD – Você sofre?

RW – Uma vez, em uma enchente, perdi todos os meus cadernos de desenhos da infância. Sofri naquela vez. Minha arte fala muito de sentimentos, mas nem sempre eles são meus. Minha arte não é terapia. Eu faço muita psicanálise, senão fico louca.

GBD – Ah, é?

RW – Sim! Sou fiel à psicanálise. Muda o DNA, sabe? Se um dia me derem alta, eu mesma me interno.

GBD – Você acredita no clichê do artista transtornado?

RW – É uma coisa muita antiga. Arte é trabalho, não brincadeira. Tem que ser levada a sério e, por isso, não dá para ser artista e viver batalhando contra a saúde mental. Esse clichê do “artista pirado” alguns até conseguem bancar, mas eu não. Não sou loucona! Peço desculpa se isso decepcionar.

GBD – Só um pouquinho. (risos) Mas e o futuro? O que as pessoas podem esperar de Rita Wainer?

RW – As pessoas eu não sei, mas o que eu espero é prosperidade e abundância!

GBD – Amém.