As irmãs Gabriela e Thalita Zukeram, criadoras da Two Lost Kids – Foto: Divulgação

No vasto universo da moda, onde tendências surgem e desaparecem com muita velocidade, duas jovens irmãs do interior do Paraná se destacaram ao criar o próprio caminho no mundo fashion. Thalita e Gabriela Zukeram, conhecidas como Two Lost Kids, conquistaram uma posição de destaque ao criarem conteúdos digitais com autenticidade, representatividade e um toque de nostalgia.

Em entrevista à Bazaar, as criativas dividem um pouco sobre sua jornada – dos primeiros passos no cenário modesto de Maringá, no interior do Paraná, a parcerias com marcas internacionais, como Jean Paul Gaultier.

O início

As irmãs Gabriela e Thalita Zukeram, criadoras da Two Lost Kids – Foto: Divulgação

A história das Two Lost Kids começa em uma época em que a criação de conteúdos de moda ainda engatinhava. Na adolescência, Thali e Gabi perceberam uma lacuna no mercado: a falta de vídeos sobre looks criativos – principalmente quando o assunto era diversidade – em um momento em que as redes sociais eram dominadas por imagens estáticas.

Foi então que as irmãs decidiram se especializar neste tipo de conteúdo. “Éramos bem perfeccionistas e com pouca estrutura, pouco conhecimento. A Two Lost Kids foi quase uma rebeldia, de mostrarmos que podemos fazer tudo, do começo ao fim”, conta Thali. “Era muito difícil termos o alcance que buscávamos, principalmente por não sermos de São Paulo e não termos contato com as marcas de lá. Conseguimos seguidores de forma bem orgânica, aos poucos”, completa Gabi.

Além da distância física das marcas com quem gostariam de trabalhar, estar em Maringá oferecia outro desafio: encontrar peças de roupas no estilo que gostavam e que lhes vestisse bem. “Víamos muito lookbook europeu, muitas referências internacionais e não tínhamos como comprar. Então, íamos em brechós e modificávamos as peças”, lembram as irmãs.

Os códigos de Two Lost Kids

As irmãs Gabriela e Thalita Zukeram, criadoras da Two Lost Kids – Foto: Divulgação

Assim como grandes diretores de cinema, Thali e Gabi conseguiram criar para o seu projeto uma identidade visual e narrativa muito clara. Quem assiste a alguns vídeos das irmãs, rapidamente consegue os reconhecer em meio à enxurrada de conteúdos que existem atualmente. “Sempre perguntam qual foi nossa inspiração para um vídeo específico e não tem. É uma junção de coisas que vamos vivendo e juntando bagagens. É como uma mistura de referências pontuais com o geral do que gostamos”, explica Tha.

Cartela de cor coesa, inserções gráficas – como letterings e desenhos -, looks que se complementam, poucas palavras faladas e uma espécie de simetria orgânica criam o estilo cool que não pode ser copiado. “Na nossa infância, nosso pai tinha uma câmera VHS, então por isso a gente gosta desta linguagem. Gostamos de coisas nostálgicas, porque íamos na locadora e assistimos muitos filmes”, exemplifica Gabi.

Se expressar por meio da moda também sempre fez parte da vivência das irmãs, que lembram que gastavam seu tempo livre consumindo o assunto. “Por isso, somos essa mistura de audiovisual com moda. Independente do que fazemos, se vamos dirigir uma campanha de outra categoria, o figurino segue sendo uma das primeiras coisas que pensamos. Faz muita diferença ter um figurino que converse com a nossa estética”, completam.

As irmãs Gabriela e Thalita Zukeram, criadoras da Two Lost Kids – Foto: Divulgação

Em tempos de Tik Tok, em que os conteúdos mais simples e orgânicos performam melhor em redes sociais mais ágeis, as irmãs afirmam que não se sentem tentadas a simplificar seus vídeos. “No fim das contas, fazer o que a gente quer é o que destaca a gente. Às vezes, pensamos em um vídeo durante um ano, um processo demorado, e ele tem uma vida de 24 horas. E aí passa, mas a gente sabe que temos uma comunidade”, explica Thali.

O que começou como uma forma de se expressar, se tornou ferramenta de representatividade para outras mulheres que se enxergam nas criadoras da Two Lost Kids. Mas o caminho teve diversos desafios, como elas mesmas pontuam. “Já passamos por coisas do tipo: ter nosso rosto modificado por Photoshop, aumentarem o olho, diminuir o nariz e a bochecha. Quando tínhamos números pequenos, marcas queriam usar nossa identidade visual, só que com modelo. Questionamos muito sobre qual era o problema de usarem o nosso rosto, já que o conteúdo é nosso”, explicam.

Mas Thali e Gabi afirmam que o cenário melhorou, principalmente porque, agora, são convidadas para sentar nas mesas que tomam as decisões. “Além da representatividade amarela, é importante mostrar que é possível fazer tudo sem um filmmaker homem. Sempre perguntam quem é o nosso designer, nosso filmmaker. Somos nós duas, conseguimos fazer”, finalizam.