Yana Sardenberg ganhou as telas ao integrar o elenco de “Floribella” nos anos 2000 – Foto: Ángel Castellanos

Nos anos 2000, era difícil ligar a TV e não dar de cara com Yana Sardenberg. Aos dez anos, a atriz começou nas telinhas como entrevistadora no programa “Gente Inocente”, da Rede Globo. Aos 15, ganhou o Brasil ao integrar o elenco de “Floribella”, como Mônica. “A gente literalmente não conseguia andar na rua”, conta. Hoje, aos 32, está na série nacional de sucesso da Netflix, “De Volta aos 15”, onde vive a fase adulta da personagem de Klara Castanho.

“É óbvio que a profissão traz a questão da fama, mas eu tenho uma visão diferente, mais operária. Eu adoro estar atrás das câmeras. Chego no set de filmagem, observo tudo, sei sobre câmera, iluminação, me interesso pelo cenário cinematográfico. Só chegar ali e fazer a minha parte é incrível, mas estar no set é mais que incrível”, conta em entrevista à Bazaar.

Yana Sardenberg – Foto: Ángel Castellanos

Ter passado a infância e adolescência sob holofotes não parece ter colocado óculos cor-de-rosa sobre sua visão de mundo. Muito pelo contrário. Equilíbrio e maturidade são palavras-chave na descrição da personalidade da artista, que fizeram com que ela conseguisse lidar com os momentos de altos e baixos da profissão com certa naturalidade.

“É um mundo muito ilusório. Você estar na TV na casa das pessoas, com milhões de pessoas te assistindo, isso dá uma sensação de poder, é perigoso. Ainda mais hoje na internet, é muita gente que tem muita opinião sobre tudo e às vezes não dizem nada”, afirma.

Ter uma multidão de pessoas a acompanhando o tempo inteiro, afinal, nem é uma de suas pretensões. “É muito chato você estar sempre em ênfase. Isso em qualquer profissão. Não dá para ser o melhor médico, o melhor advogado sempre, melhor jornalista. Você pode ser boa, mas estar sempre no topo? É muito louco, cansativo, é uma doideira.”

Sua ideia de sucesso é outra, e passa por ajudar novos artistas e realizar trabalhos fora do País. “Tenho vontade de expandir mesmo, ganhar o mundo em vários aspectos”, conta. “Queria fazer Netflix fora, não só Netflix, mas trabalhar fora, ir para o mercado internacional. Também escrevi um livro, que fala um pouco da minha vida, mas é o desenvolvimento de um método meu para ajudar novos atores no mercado.”

Foto: Ángel Castellanos

E, no fim do dia, “contar histórias”. “[Quero] transformar o mundo com um pouco mais de leveza e cultura, transformar as nossas crianças. A experiência como atriz, artista, é sobre humanidade. Quanto mais puder humanizar, mais aproxima o público e cura as pessoas. Todo mundo tem traumas, a vida é sobre traumas. E conflitos. Todo mundo tem conflitos, o dia todo.”

Parte dessa clareza e pé no chão ela atribui ao suporte da família, parte à terapia, que faz desde que entrou em “Floribella”. A curiosidade pela mente humana, inclusive, a levou para uma pós graduação em psicologia junguiana, que precisou pausar para tocar as gravações da série, mas segue em andamento. “Minha profissão [também] é a cura, a gente cura muita coisa, bota para fora, é um processo de autoanálise”, explica. 

Foto: Ángel Castellanos

Esse amadurecimento não escapa às câmeras. “As personagens têm crescido junto comigo. A própria Carol de ‘De Volta aos 15’. Eu sinto que é um processo natural. Não preciso ficar reforçando que sou madura, minha vida está acontecendo. É bonito o processo de envelhecimento também. A vida está sempre recomeçando para nós mulheres.”

Essa jornada contínua de recomeço é atravessada pelo corpo. Durante a pandemia, Yana descobriu ser parte das estatísticas da endometriose, condição que afeta uma em cada 10 brasileiras – cerca de oito milhões de mulheres no País, segundo dados do Ministério da Saúde.

“Tive um desmaio em casa, no box. De dor, mesmo. Estava com muita dor. Fiz a ressonância, deu um cisto hemorrágico. Aí não tinha jeito, comecei a tomar pílula ininterrupta, porque não posso sangrar por causa da dor da endometriose. Foi a maior dor que eu já senti”, compartilha.

“É uma condição silenciosa, muita gente tem e não sabe. Acho importante falar sobre isso. Como atriz, as pessoas acham que a gente é meio intocável, perfeita. Todo mundo é cheio de problemas, questões, vivendo nesse mundo como todo mundo. Acho legal dividir nossas virtudes, conquistas, mas também nossas fraquezas.”