
A cor mais quente: a história da sola vermelha de Christian Louboutin (Imagem: Divulgação)
No coração de Paris, a três passos do Café de l’Époque – o restaurante de 1870 onde, até hoje, se acham as melhores fatias de tarte tatin em Paris –, a Galerie Véro-Dodat se estende por oitenta metros, terminando em uma das boutiques de moda mais icônicas da história recente do luxo: Christian Louboutin. Mesmo antes de inaugurar o endereço (que se tornou seu primeiro, depois de uma sugestão do colecionador de arte Eric Philippe), “Loubi” já era familiarizado com a passagem, construída ainda em 1826. Aos 13 anos, era por lá que cruzava tarde da noite, ao lado do amigo mais velho, Thuan, que criou, anos depois, o logo da marca.

Christian Louboutin na construção de sua primeira boutique em Paris, no início dos anos 1990 (Imagem: Divulgação)
Hoje, quem passa pela vitrine (assim como Caroline de Mônaco adorava fazer nos anos 1990), reconhece de imediato as solas vermelhas. Mas o detalhe, que celebra 30 anos em 2023, não nasceu junto com o sonho de criar sapatos. Ao contrário, um Louboutin adolescente já se inspirava na teatralidade das dançarinas do Folies Bergère para desenhar os croquis que o levaram, de forma impressionantemente precoce, para um estágio na Charles Jourdan, o ateliê responsável por assinar os sapatos Christian Dior na década de 1970. Um enfant terrible genuíno, não durou muito tempo como aprendiz. Na juventude, de fato, preferiu sempre o efêmero: além de uma expulsão do Lycée Paul Valéry aos 15 anos, também sequer se permitiu ficar como assistente do lendário designer de sapatos Roger Vivier por muito tempo.

O jovem Christian Louboutin (Imagem: Divulgação)
Com o espírito forte de liberdade, preferia muito mais as noites selvagens na pista de dança do Palace, ou no bar do La Coupole tomando champagne. Aventuroso e avesso à naturalidade, sempre prezou pelo statement. E mesmo já dono de sua primeira boutique, buscava mais. Ainda nos primeiros meses depois da inauguração, um casal de brasileiros atravessou as portas na Véro-Dodat e, enquanto a mulher experimentava modelos, o homem, entediado, levantou um dos pares para ver as solas, ainda em cores neutras.

Pensée, a primeira coleção de Christian Louboutin (Imagem: Divulgação)
Depois de saírem, uma das vendedoras brincou que adoraria ter colocado seu número de telefone ali. Ao mesmo tempo, enquanto os primeiros protótipos da coleção de outono-inverno 1992-1993 chegavam no ateliê, Christian Louboutin se encantou pelo resultado do modelo Pensées, em crepe rosa. Sentindo falta de um pizazz, pegou o esmalte vermelho da assistente, Sarah, e pintou as solas pretas. Não foi completamente original (o rei francês Luís XIV já ostentava solados vermelhos três séculos antes), mas revolucionou o momento de estilo. Mais do que só elegantes, agora seus sapatos eram sexy – de frente, de trás e de ponta-cabeça.
Três décadas mais tarde, as solas continuam a criar desejo entre fashionistas de todas as gerações, provando que Christian Louboutin é o príncipe encantado dos sapatos! Vai encarar a pincelada vermelha?