
Mary Janes pela marca Nodaleto – Foto: Reprodução/Instagram/@nodaleto
Em um delicado passo ao longo dos séculos, a história dos sapatos Mary Jane entrelaça-se com os vagares da moda e os ritmos da sociedade. Desde os idílicos jardins renascentistas, na nova onda de juventude londrina nos anos sessenta até os corredores das passarelas internacionais contemporâneas, esses sapatos exibem uma certa metamorfose, tecendo uma narrativa cativante entre feminilidade e estilo.
Como testemunhas silenciosas do passar do tempo, os Mary Janes adquiriram uma personalidade única conquistando corações e pés das fashionistas. Em versões cobertas de pedras vermelhas mágicas para Judy Garland em “O Mágico de Oz” (1939), do guarda-roupa infantil até se tornar música da cantora Fergie, que já dizia “When I wear my Mary Janes shoes I can escape from the blues” (Quando uso meus sapatos Mary Janes, posso escapar da tristeza).

Campanha de verão 2023 da Prada – Foto: Reprodução/Instagram/@prada
O contorno dessa saga de moda, mergulhando na evolução e no surgimento dos pares, o sapato é um dos estilos mais reconhecidos de todos os tempos com seu bico arredondado e confortável em conjunto com a tira característica no peito dos pés. Os Mary Janes foram presenças comuns em uniformes escolares, roupas de trabalho, e enfeitaram os pés de crianças e adultos em todos os tipos de cores, com fivelas e botões, bicos e alturas.
Os sapatos estilo Mary Jane já existem há mais tempo do que o nome “Mary Jane”, o estilo aparece em várias interações e períodos ao longo da história, existem exemplos já no século 16 que se parecem bastante com o modelo.
A ideia contemporânea que conhecemos dos pares, começou no século 19 com um desenho infantil, o estilo era frequentemente visto em crianças pequenas principalmente nos meninos até então. Eles eram chamados de “sapatos de boneca”, ou “sapatos de bar”, mas em 1904 o nome ‘Mary Jane’ foi associado ao estilo quando a Brown Shoes Company licenciou o nome da série de quadrinhos Buster Brown de R.F Outcault. Mary Jane era o nome da companheira de Buster Brown, o personagem principal do quadrinho.
O modelo começou a sair das terras dos quadrinhos e jardim de infância quando as mulheres mais jovens da década de 1920 começaram a incrementar o modelo com saltos mais altos. Entre as flappers em conjunto com as reconhecíveis tiras, eles descobriram ótimos sapatos para as longas noites de dança. Começaram-se a produzir Mary Janes de todos os tipos de cores, abordagens e padrões para combinar com os vestidos da década, afinal, como as bainhas eram mais altas, os sapatos ficaram mais visíveis.
Nos anos 1960, o modelo se tornou um clássico no novo visual que tomou a juventude de Londres chegando até mesmo a ser um tipo de uniforme não oficial da subcultura “mod”, graças a designer Mary Quant que além de popularizar o estilo jovem adicionou o modelo de sapato em ninguém menos que Twiggy em suas campanhas juntas – a parti dali, o sucesso na década foi garantido.

Mary Quant e suas modelos – Foto: Getty Images
Embora a clássica Mary Jane ainda seja uma invasão comum nos colégios católicos, o estilo em plataformas foi um ícone no final da década de 1990, entre grupos subversivos nas subculturas de punk rock e góticas acentuavam o visual com meias de malha rasgadas, listradas ou em cores vibrantes.
O sapato só começa a voltar para o ciclo de tendências e o gosto popular, fora dos subgrupos irreverentes, quando em 2008 Jenna Lyons se tornou a diretora criativa da J.Crew, suas coleções redefiniram o estilo ‘preppy’ com um ar universitário mas em cores vibrantes e muitos acessórios, se tornou um sucesso entre 2010 principalmente pelas séries de sucesso que replicavam o estilo, de Gossip Girl, Pretty Little Liars, até a fashionista Alexa Chung, um dos nomes mais populares da década, todas apareciam com suas versões de Mary Janes.
Em 2020 a marca Nodaleto conseguiu viralizar em plena quarentena graças a sua versão moderna do sapato, um toque de nostalgia e modernidade para os pés. Desde então, o sapato têm sido uma presença recorrente nos desfiles internacionais de moda com marcas como Christian Dior, Prada, Tory Burch e Emilia Wickstead já tendo versões nas últimas temporadas dos sapatos.
Atravessando os tempos, os “Mary Janes” continuam a brilhar seja pelo conforto nos pés até o estilo à la boneca, eles são uma eterna harmonia entre tradição e inovação para os dias contemporâneos. Enquanto os holofotes das passarelas ainda brilham sobre esse modelo, a jornada dos Mary Janes é uma trajetória que perdura mesmo com o ciclo de tendências passageiras e voltando para o guarda-roupa moderno. Da inocência da infância à ousadia das passarelas, esses sapatos permanecem como testemunhas silenciosas de um legado que transcende gerações e estilos.