Por Luigi Torre
“Na coleção masculina, que compartilha o mesmo nome (Cyclops), essa visão foi focada na agressão. Quando aplicamos às mulheres, vejo que a visão acabou centrada mais sobre irmandade, maternidade e regeneração; mais em mulheres que levantam outras mulheres, mulheres se tornando mulheres, e mulheres apoiando às mulheres. Alças podem ser restritivas, mas aqui também dão suporte e união. Alças aqui se tornam laços de amor.” Foi assim que Rick Owens explicou um dos principais pontos de seu verão 2016. No caso, não só as roupas, mas como elas comunicavam algo muito maior.
Que seus castings (e apresentações) fogem do convencional, não é novidade. Mas, dessa vez, com modelos acopladas de cabeça para baixo umas às outras, havia algo mais intenso nas entrelinhas: amarradas como sacolas ou mochilas, estaria o estilista falando da objetificação do ser humano? Sobre a necessidade ser não uma, mas várias pessoas hoje? De força feminina, irmandade e de sua habilidade de carregar, suportar e criar outras mulheres? Talvez tudo junto, bem ao gosto do freguês – ou do espectador. Coleção boa é aquela aberta a múltiplas interpretações. Bem como essa.
A começar pelas roupas: simples, quase brutas e primitivas nas suas formas, com cortes retos, pontuados por alguns volumes orgânicos que pareciam envolver o corpo do qual nasciam. Mas extremamente complexas em sua execução, com técnicas intricadas e materiais dos mais nobres. Terreno já conhecido, mas aqui reforçado por elementos militares, como as ótimas jaquetas de organza. E nessa dicotomia entre o bruto e suave, já escreviam nas entrelinhas a principal mensagem da coleção: força feminina.
Sem querer desmerecer a causa, feminismo é tendência. Na moda e no mundo. E não só para o verão 2016, já o é faz algumas temporadas, vide as crescentes e bem-vindas discussões, conquistas e acontecimentos a favor do empoderamento feminino (leia mais sobre isso na edição de outubro da Bazaar). E ainda que seja cada vez mais difícil em falar na moda (hoje mais business do que livre expressão criativa) como reflexo da sociedade, é interessante notar como o assunto vem subindo às passarelas nessa atual temporada internacional de desfiles. Aconteceu com o exército de Donatella Versace, com as mulheres superpoderosas de Olivier Rousteign, na Balmain, e agora, de maneira subversiva e poética com Rick Owens.