Fforme, verão 2026 – Foto: Reprodução/Instagram/@fforme

Por Cassio Prates e Eve Barboza, do Gid Estudio

A semana de moda de Nova York ainda nem acabou, mas já deixa a sensação de que está ficando para titia. Isso não é uma conclusão etarista, e, sim, uma análise de acordo com uma das muitas questões que o país está enfrentando. Pela primeira vez na história, a população ativa dos Estados Unidos deve diminuir. O que significa que, em breve, os idosos superarão os jovens. A conta do chamado “precipício demográfico” é simples, já que o crescimento populacional tem duas fontes: o natural (mais nascimentos do que óbitos) e o migratório (mais chegadas do que partidas). Algumas consequências já são notáveis, como a cultura, cada vez mais nostálgica e menos dinâmica, e as novidades mais estagnadas. Foi isso o que mais se viu nas passarelas da NYFW.

O ponto forte da semana de moda norte-americana nunca foram as novidades, e sim as vendas. Mas este ano, ela ganhou mais uma camada: criar algo dentro de uma política opressora e que não incentiva a cultura. Essa dificuldade fica nítida ao analisarmos que quem mais se destacou foram estilistas que apostaram em imaginários sobre a moda norte-americana (mais especificamente, nova-iorquina) a partir de visões de fora. Só eles conseguiram respirar melhor as novidades e deixarem de lado a energia de Uncle Sam.

A lista conta com Ib Kamara que, no retorno da Off-White para NYFW, trouxe sua visão de Serra Leoa e Londres para o jogo, onde as cores das roupas e das ruas criam um match bonito; a estreia de Nicolas Aburn na Area que, embora nascido nos Estados Unidos, passou grande parte da vida na Europa; Frances Howie, neozelandês no comando da Fforme; e a jamaicana Rachel Scott na Proenza Schouler (ainda que de forma tímida). Os olhares de fora foram os mais importantes para uma cultura mais completa – menos média e estagnada –, que rejuvenesceu a semana.

Em última análise, “envelhecer”, neste caso, não é sobre idade. É sobre ideias. Você pode ter 20, 30, 40 ou sei lá quantos anos, e se achar incrivelmente jovem ou que já perdeu a sua vez, tudo depende da vontade de enfrentar e entender transitoriedades – na vida e na moda. A vontade de nunca envelhecer tem um pouco de relação com transgredir ou aceitar a morte. Talvez, seja essa a maior questão da semana de moda de Nova York. A moda sempre vai sobreviver para além de governos ou momentos ruins. Londres, Milão e Paris estão logo ali.