Preview da primeira coleção de Seán McGirr para a Alexander McQueen (Foto: Divulgação/Tommy Malekoff)

É preciso ter o olhar atento para achar, entre as pilhas de livros no estúdio da Alexander McQueen na Clerkenwell Road, em Londres, uma das cópias originais de “O Diretório da Moda no Século 20”, publicado em 1985 por Colin McDowell. E, ainda mais difícil, é encontrar uma das várias versões de “Sonhos de uma Noite de Verão”, de William Shakespeare. Isso, claro, se você for um estranho. Para o próprio Alexander, a história era bem diferente.

Ambas as obras eram favoritas suas (a shakespeariana, por exemplo, até inspirou uma tatuagem no braço direito) e, ao longo de sua carreira, ele preferiu muito mais revistar referências literárias e cinematográficas, como os filmes de Alfred Hitchcock, às suas próprias. No mesmo ateliê, afinal, a coletânea completa de seus desenhos, esboços e croquis para as suas mais de 36 coleções permaneceu quase intocada e ignorada por ele próprio.

Preview da primeira coleção de Seán McGirr para a Alexander McQueen (Foto: Divulgação/Tommy Malekoff)

McQueen era avant-garde, fashion-forward. Detestava olhar para o que já tinha feito e achava muito mais graça na surpresa estética que, ao longo das quase duas décadas de carreira, chocou, divertiu, enojou, assustou e conquistou sua audiência. Em seu universo visceral, o passado pessoal tinha pouca importância: a criatividade precisava fluir.

É uma surpresa e tanto (portanto) que Séan McGirr, novo diretor criativo da marca, escolheu a nostalgia como caminho para sua estreia. O début oficial ainda não aconteceu – será na semana de moda de Paris, ainda neste mês – mas alguns spoilers de sua visão já rodaram em e-mails oficiais. Para começar, o designer inglês reviveu o logo original de 1992, com a letra ‘c’ dentro do “Q”. Icônico havia sido abandonado em 2018, em uma das mudanças mais significativas da direção de Sarah Burton, que deixou o cargo em setembro passado.

Preview da primeira coleção de Seán McGirr para a Alexander McQueen (Foto: Divulgação/Tommy Malekoff)

Nas redes sociais da marca, a inspiração para o retorno do primeiro logo foi explicada com uma foto de um passe de bastidor do desfile ‘Dante’, do outono-inverno de 1996. Na sequência, foram divulgadas as primeiras imagens da coleção de McGirr para a McQueen. São cenas de modelos (Debra Shaw, entre elas) em uma floresta de pinheiros, com toda a atmosfera “céltica macabra” que Alexander adorava. Os rostos estão cobertos por máscaras metálicas de caveira, outro símbolo emblemático no legado do estilista, e, nos corpos, as roupas resgatam o melhor dos clichês de McQueen: pretinhos sinistros, texturas curiosas e tartãs escoceses saudosistas, protagonistas em ‘Highland Rape’, do outono-inverno 1995.

Ai, ai, ai. Na moda de McQueen, a originalidade era fácil de entender: seu estilo era pessoal, sem invejas ou recalques, e totalmente curioso pelo novo. Sua sucessora, com quem trabalhava desde 1996, também valorizava o autoral, respeitando os códigos-maiores da casa, como a alfaiataria impecavelmente inglesa, com o twist fresco da individualidade feminina.

Preview da primeira coleção de Seán McGirr para a Alexander McQueen (Foto: Divulgação/Tommy Malekoff)

Agora, com a direção de Séan, a cena sugere dar um passo para trás. Por enquanto, o aroma é óbvio e até arriscado: o mundo todo já conhece Alexander McQueen – o momento pede novidade, surpresa! Mas calma, calma, ainda tem muito para ver… Será?