Modelos da Argalji – Fotos: Kira e Ilana Lichtenstein

*BAZAAR Apresenta

Por Piti Koshimura

Em meio a visuais potentes e clima quase teatral, cinco marcas brasileiras lideradas por mulheres representaram o caldeirão criativo da moda nacional na Expo 2025 Osaka, no Japão. A apresentação fez parte da abertura da Semana da Mulher, realizada em agosto – uma iniciativa da ApexBrasil, que também assina o Pavilhão do Brasil na Exposição Mundial, aberta ao público até 13 de outubro. Embaladas pelas artes generativas criadas pela artista JE Kos, Aluf, Argalji, Artemisi, Mayara Junges e Penha Maia exibiram suas criações para uma plateia eletrizada, no “Shining Hat”, anfiteatro projetado por Toyo Ito, arquiteto japonês vencedor do Prêmio Pritzker.

As peças de Penha Maia desfiladas na Expo
2025 Osaka – Fotos: Kira e Ilana Lichtenstein

Segundo a curadora Olivia Merquior, o ritmo e o desenvolvimento criativo da passarela foram ditados por qualidades próprias de cada marca: a “pureza” da Aluf, da paraense Ana Luisa Fernandes, o aspecto mais arquitetônico e sexy da marca que leva o sobrenome da carioca Monique Argalji, seguido de um espírito rock’n’roll da Artemisi, da capixaba Mayari Jubini. De seu ateliê em Curitiba, Mayara Junges levou “um lado mais romântico e elegante”, enquanto a paraibana Penha Maia encerrou a apresentação com peças “que fazem a gente sorrir e brincar com a ideia do vestir”.

Detalhe do look da Artemisi – Fotos: Kira e Ilana Lichtenstein

Apesar dos diferentes estilos, Olivia destaca um traço em comum entre as cinco marcas: a exploração de volumes. “A gente resolveu buscar algo que trouxesse essa sinergia entre cultura brasileira e japonesa, onde a gente entende que a criatividade e, principalmente, a experiência de formas são fundamentais”, comenta. Monique Argalji contou à BAZAAR que ter participado de um workshop em 2014 com o mestre japonês Shingo Sato, especialista em modelagem 3D e origami têxtil, foi transformador no seu processo de criação.

As peças de Penha Maia desfiladas na Expo
2025 Osaka – Fotos: Kira e Ilana Lichtenstein

A exuberância nas formas e a pluralidade criativa refletem o conceito da Chuva do Caju, iniciativa da ApexBrasil idealizada por Bruno Simões para a Semana de Design de Milão, em abril deste ano, com o intuito de promover o mobiliário brasileiro. Com o nome emprestado do fenômeno meteorológico do Nordeste, símbolo de renovação e fertilidade, o projeto ganhou, no Japão, uma expansão com foco na moda.

As cinco marcas foram selecionadas a partir de um edital do Texbrasil, programa da ApexBrasil em parceria com a ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção).

Detalhe do Shining Hat, onde aconteceram as apresentações – Fotos: Kira e Ilana Lichtenstein

Além da conexão com a narrativa do projeto, os critérios incluíam representatividade regional e, principalmente, liderança feminina. Lilian Kaddissi, superintendente de Projetos Estratégicos da ABIT, explica que as mulheres são fundamentais para a indústria têxtil e de moda. “Na confecção, que é o elo final da cadeia, elas representam 75% dos empregos. Muitas delas já estão expandindo os negócios e atuando em mercados internacionais”, afirma Kaddissi.

Protagonismo feminino, sustentabilidade e futuro do trabalho foram alguns dos temas que pautaram os dez debates e seminários da Semana da Mulher, durante a Expo 2025 Osaka, reunindo cerca de 50 palestrantes de nove países e mais de 2 mil espectadores. Para Ana Paula Repezza, diretora de negócios da ApexBrasil, as discussões evidenciaram como a equidade de gênero é tanto uma pauta social como também uma estratégia de desenvolvimento na economia global: “A Semana da Mulher nos permitiu dialogar com lideranças internacionais e mostrar a potência das mulheres”.

Em relação à moda brasileira no exterior, que já é reconhecida em nichos como o da moda praia, destacar a liderança feminina em ações articuladas com outros temas globais, como inovação e práticas sustentáveis, seria uma forma de consolidar a força da cadeia nacional, segundo a agência. Maria Paula Velloso, gerente de indústria e serviços da ApexBrasil, ressalta o diferencial competitivo do País, que produz da matéria-prima ao design. Dessa Chuva do Caju “consequentemente, não de forma imediata, a gente vai colher frutos lá na frente em termos de exportação”.