Tendência Barbiecore

Foto: Reprodução/IMDb

Apesar de estar marcado apenas para ser lançado em 2023, “Barbie”, o filme protagonizado por Margot Robbie, como Barbie, e Ryan Gosling, como Ken, já é responsável por lançar a mais expressiva tendência do momento, a “Barbiecore”.

Com as gravações acontecendo em Los Angeles, simultaneamente, o mundo também passou a reviver o universo da boneca mais famosa de todos os tempos e, com isso, aquilo que menos poderia se esperar em pleno 2022, aconteceu.

Mesmo com, literalmente, milhares de influenciadores de diferentes nichos e propostas espalhados por todos os continentes, a tão polêmica e inesquecível Barbie voltou a ditar a moda, a estética e também os padrões de beleza.

E, claro, é mais do que importante que em um momento como esse, que a sociedade, em conjunto, abrace essa tendência como qualquer outra, mas que também avalie o que a volta da influência da boneca significa nos dias de hoje, em especial para as mulheres. Estaríamos revisitando o passado ou escrevendo uma nova versão moderna e atualizada dele?

Mas, afinal, o que é “Barbiecore”?

Antes de tentarmos analisar qualquer questão, é preciso entender do que se trata a tendência. Ainda que fique quase que subentendido em seu nome e que faça parte do imaginário de qualquer mulher que nasceu depois do lançamento da primeira Barbie, em 1959, “Barbiecore” é, em poucas palavras, um verdadeiro tsunami cor-de-rosa  e uma explosão de glitter – da mesma cor – nas peças de roupas e acessórios, que foi e continua sendo tão característico do padrão estético que simboliza a feminilidade.

Para ficar mais simples de visualizar, alguns exemplos dessa estética e do que ela representou por muito tempo são extremamente marcantes. Na televisão brasileira, a Xuxa perpassou gerações com seus visuais cor-de-rosa, botas de plataforma e fios loiros – conjunto que, não à toa, lembram muito a boneca de sucesso da Mattel.  Já nos filmes, nos Estados Unidos, Elle Woods, de “Legalmente Loira”, e Sharpay Evans, de “High School Musical”, também são lembradas por serem símbolos dessa tendência no universo cinematográfico.

Por que precisamos estar atentos à tendência “Barbiecore” em 2022?

Não há como negar que ela realmente está de volta. A coleção outono-inverno 2022 da Valentino é a prova de que, para além do que é pautado pelas redes sociais, o all pink já invadiu as passarelas e a alta-costura, mostrando que a “Barbiecore” também pode ser democráticas, sexy – no maior estilo dopamine dressing – e apontar um olhar voltado para o futuro.

Mas ainda que repaginada, de certa forma, trazendo elementos do Y2K e mais impacto do que no passado, há ainda uma preocupação sobre o que pode estar por trás de toda essa explosão rosa choque.

O número de cirurgias plásticas no Brasil, por exemplo, já é o maior do mundo. Trazendo também um panorama global, muito se fala de uma suposta cirurgia que retirou partes dos glúteos das Kardashians. O culto à magreza poderia estar de volta? E esse corpo magro e branco das novas influenciadoras do TikTok? Não te lembra o de ninguém?

Para além da preocupação com a disformia e do tratamento do padrão de corpo como uma tendência de beleza, há ainda um segundo ponto a ser analisado. Mais uma vez, por trás do rosa, o que personagens como as citadas Elle Woods e Sharpay Evans te remetem?

Muito associadas à falta de intelecto feminino e à futilidade, esse também é o figurino que caracterizou para a sociedade de diferentes épocas a figura de uma mulher que é tida como inferior socialmente. Nas redes sociais, inclusive, há diversos vídeos em que garotas fazem questão de renegar essa tendência, ao afirmarem que “não são como as outras garotas”, ou seja, que não gostam de rosa ou que não vestem rosa como outras garotas. Nesse sentido, o que elas acabam por afirmar é que a estética tida como masculina é superior – o que mostra claramente como a misoginia e o patriarcado atuam no inconsciente de jovens garotas.

Apesar disso, ainda que seja importante lembrar de todas essas questões e como elas podem ser nocivas aos avanços das mulheres, vale ressaltar que nem mesmo a Barbie é a mesma. Nos últimos dez anos, a Mattel, que é a responsável pela criação e a comercialização da boneca a nível global, se propôs a lançar bonecas “Barbie” que refletem a realidade feminina. Portanto, se ainda acreditamos que a “Barbie” é tão capaz de lançar tendências na nossa sociedade, também acreditamos que, assim como a própria boneca – que se reinventou ao longo dos anos, seguir padrões estéticos que causam danos aos avanços conquistados pelas mulheres já não faz mais sentido, seja na moda, na beleza ou em qualquer aspecto que contempla a vida de uma mulher.