Tem parcerias que nascem rápido. Outras, levam quase uma década pra acontecer. A história entre Jubba Sam e Renan Molin começou assim: um convite informal, algumas mensagens, uma colaboração que deu certo — e só depois virou uma parceria entre camaradas. Agora, em 2025, os dois dividem a direção criativa da Beatnik. E esse encontro tem consequência direta: a primeira coleção de roupas da marca, batizada de Atelier.
A Beatnik surgiu em 2015 como uma marca de mochilas. “Foi num momento de transição pessoal”, conta Molin. “Eu precisava de um acessório pra carregar minhas coisas vivendo de forma meio nômade. Desenhei uma mochila, achei quem fizesse, comecei a usar. As pessoas perguntavam, e a marca nasceu.” Da mochila, vieram as malas. Depois, as bolsas. Sempre com o foco em deslocamento. “A gente falava que era uma marca de ‘coisas que carregam coisas’. Um travelware, antes de tudo”, ele diz.
O tempo passou, o couro evoluiu, e a ideia de vestuário chegou. Mas não por acaso. “A gente já tinha feito uma jaqueta com alças internas, que virava mochila. Não foi uma ideia aleatória. Era sobre funcionalidade, como sempre foi.” Jubba, fundador da DOD Alfaiataria, entra nesse processo como alguém que já acompanhava tudo de perto. “Eu mandava mensagem, já admirava a marca desde a época da Skull [marca de joias]. Quando fizemos a primeira collab, vi que havia espaço pra mais”, ele conta. “E foi aí que veio o convite: em vez de criar uma marca nova, por que não crescer dentro da Beatnik?”
Atelier, a nova coleção, é o resultado dessa aproximação. Peças que não partem de gênero, mas de forma e uso. Jaquetas estruturadas, calças com bom caimento, tecidos que têm peso, textura, função. “A ideia é pensar no que falta no mercado brasileiro. Coisas que a gente queria ver por aqui e ainda não via”, diz Jubba.
O encontro entre os dois criadores também junta dois jeitos de pensar no produto. “Eu admiro muito o que o Juba faz com a DOD. Ele pega uma calça de alfaiataria e vai mexendo, sem pressa. Melhorando a costura, o corte. Esse pensamento de evolução constante é o mesmo que tenho na Beatnik”, diz Molin. Desde 2020, a Beatnik já tem certificação do Sistema B, trabalha com couro A-grain sem metais pesados e quer manter a lógica de pequenas edições e produção rastreável. O que muda agora é o escopo.
Além das roupas, a marca expande seus territórios: vem aí a primeira loja física, prevista pra São Paulo, e uma curadoria que inclui mobiliário modernista e relógios vintage. “A gente começou a restaurar peças do Sérgio Rodrigues, do Lafer, do Zalszupin, com o nosso couro. Também estamos trazendo Cartier dos anos 70 e 80. É tudo parte do mesmo universo. Um olhar pro detalhe, pra história do objeto”, explica Molin, que colocará à venda também os móveis assinados como parte da curadoria da marca.
A roupa é nova, mas a lógica não muda muito: observar o que está faltando, testar caminhos possíveis e deixar o tempo fazer o resto. “Se eu tivesse que explicar o que faço aqui, diria que é isso: olhar pro que já existe e pensar no que ainda não foi feito”, diz Jubba. “Às vezes, é só uma dobra diferente. Às vezes, é repensar o jeito de carregar uma jaqueta.” Aos poucos, a parceria vai ocupando mais espaço. No corte, na costura, no tipo de couro escolhido. Mas também no jeito de pensar quem veste, como veste e por quê. Não tem pressa. “Nosso trabalho não é sobre coleção”, resume Molin. “É sobre projeto.