
Rober Dognani
Casa de Criadores 56 – Foto: Marcelo Soubhia
No quarto dia de Casa de Criadores a poesia pairava sob o ar e deixava uma atmosfera de moda com sensibilidade e politica, as narrativas e propostas apresentadas tinha muito de seus criadores e de suas histórias. Emoção foi a palavra chave. A Yebo abriu o quarto dia com uma coleção dedicada à mulher real e multifacetada. Inspirada nas mil e uma situações do cotidiano feminino, a proposta foi traduzida em peças que aliam conforto, estilo e versatilidade — pilares da mulher contemporânea. Com uma alfaiataria desconstruída e influências que transitam entre os anos 70 e 90, a coleção mescla referências vintage com uma abordagem atual, trazendo um olhar fresco e urbano. A modelagem propõe um novo uso da alfaiataria, agora incorporada ao streetwear e pensada para o dia a dia.
Jacobina construiu uma narrativa sensível e política sobre o apagamento das histórias de mulheres negras. Inspirada por figuras como Carolina Maria de Jesus, Tia Ciata, Marsha P. Johnson, entre outras, a marca evoca não só suas memórias, mas também a de tantas outras mulheres invisibilizadas ao longo da história. As estampas são símbolos dessa resistência: a rachadura, que costuma remeter ao desgaste, aqui surge como fresta e possibilidade de visão além do presente. Uma das estampas mais impactantes da coleção utiliza lamparina de querosene, criando uma imagem poética de névoa e fumaça que se dissipa — uma metáfora para a revelação dessas histórias ocultas.
Não Perecível, apresentada por Guma Joana, homenageia a cultura pop, com influências que vão da pré-história ao futuro pós-apocalíptico, explorando temas como tecnologia e o fim do mundo, mas sempre com uma abordagem lúdica e criativa. Joana destaca que essa coleção representa um momento de diversão e expressão de sua visão, focando no trabalho de moda em si, e não apenas em questões políticas. Além disso, ela experimenta com materiais diversos, indo além da transmutação, técnica que a consagrou.
Em sua oitava participação na Casa de Criadores, Mônica Anjos apresentou a coleção OdéKaidodè – O Caçador Traz Alegria, uma ode ao universo das religiões de matriz africana. A coleção mergulha na simbologia das matas e dos orixás, com uma paleta que transita entre tons terrosos, verdes e azuis — cores associadas ao orixá caçador.
A proposta explora texturas rústicas e artesanais, com destaque para o uso de cordas, ilhoses, búzios e tramas de tricô, criando uma narrativa têxtil potente e sensorial. Alfaiataria com volumes, brilho em paetês e elementos que evocam a espiritualidade se misturam a uma estética contemporânea.
Filipe Freire apresenta “Fire”, a primeira de cinco coleções inspiradas nos elementos. Com uma pegada rock e sensual — marca registrada da grife — ele destaca o uso intenso de correntes, criando uma imagem forte e impactante para a passarela. Embora conte com a ajuda de amigos para detalhes manuais, Felipe desenvolveu sozinho toda a trama e o conceito da coleção.
Rober Dognani celebra seus 50 anos com uma coleção profundamente inspirada nas lendas e memórias familiares que marcaram sua infância. Ele traz para a passarela muita dramaticidade, performance e histórias carregadas de emoção, especialmente do período da imigração para o Brasil — uma realidade dura vivida por muitas famílias daquela época. Além dessas narrativas, Rober também se inspira em objetos simbólicos da sua história, como a Bíblia antiga repleta de imagens sacras que ganhou quando criança. Para traduzir essas memórias, a coleção mistura materiais como látex, jeans, tule, nylon, renda e couro, criando peças que refletem tanto a dramaticidade quanto a força dessas histórias familiares.