
Fkawallyspunkcouture
Casa de Criadores 56 (@AGFOTOSITE)
Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite
No quinto dia da Casa de Criadores, a passarela foi tomada por coleções que ecoaram temas urgentes e afetivos — uma costura entre memória, identidade e resistência. As propostas revelaram não só domínio técnico, mas também um olhar profundo para o tempo presente e suas complexidades. Foi uma noite marcada por ancestralidade, reaproveitamento, celebração e ternura.

Le Benites
Casa de Criadores 56
Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite
Nalimo, estilista, pesquisadora e ativista, abriu o desfile com a coleção “Chico Mendez no Coração da Floresta”. A proposta valoriza a bioeconomia da floresta com o uso de couro de pirarucu e látex natural. As peças apostam no artesanal e em utilitários, com bolsos grandes inspirados em mapas demográficos — um gesto de resistência e cartografia afetiva da Amazônia.

Nalimo
Casa de Criadores 56
Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite
Na sequência, a Beirimbau, comandada por Sando Freitas, trouxe “Babaçu”, uma homenagem à cultura do cultivo do babaçuu no Maranhão. A coleção se desdobra em tons terrosos e tramas que remetem aos cestos de palha, destacando-se pelo acabamento rústico e elegante. As peças-chave — como o vestido longo com volume nos ombros e o tomara que caia estruturado — traduzem um Brasil profundo, onde tradição e design caminham juntos.

Berimbau
Casa de Criadores 56
Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite
A Notequal apresentou uma coleção que mergulha no universo nômade e performático do circo, cruzando referências de comunidades itinerantes como ciganos e quilombolas. Em colaboração com a The Artist, a marca contrastou jeans desgastados com tecidos nobres como sedas, jacquards e brocados. A coleção vibra com a poética do deslocamento e a memória das lonas, num jogo visual que flerta com o luxo e a irreverência.
O Studio Ellias Kaleb propôs “Instinto”, uma coleção que reflete sobre a extinção animal e a urgência ambiental. Tecidos reaproveitados, algodão e acessórios feitos com garrafas PET foram a base para peças que evocam texturas naturais e espécies ameaçadas. O trabalho se destaca por sua consciência ecológica e por traduzir, em moda, a delicadeza da vida em risco.

Notequal
Casa de Criadores 56
Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite
Fkwallyspubkcouture apresentou um mix vibrante de influências árabes com referências punk rock e estéticas dos anos 70. A coleção celebra o caos como expressão criativa, misturando dourados, volumes, bordados e alfaiataria desconstruída. É uma ode à liberdade — onde rebeldia, cultura e exuberância se fundem em uma moda sem fronteiras.
Encerrando a noite, Le Benites impactou com uma coleção sensível e carregada de afeto. Inspirado por um livro de tecido encontrado ao acaso, ele construiu uma narrativa visual centrada em tons sóbrios trazendo toques pinks, as peças representam os monstros da juventude, trazem uma estética conceitual e afetiva, onde força e ternura coexistem. São criaturas imaginárias que abraçam — símbolos de um “Forever Young” que enfrentamos como padrão tanto estético quanto até mercadológico, afinal podemos envelhecer?
O quinto dia da Casa de Criadores foi, assim, um convite ao olhar atento e ao coração aberto. Uma noite em que a moda reafirmou seu poder de contar histórias, criar mundos e transformar consciências.