Chanel Verão 2024 | Foto: WWD

Como eu queria ter chegado no desfile da Chanel em um trem azul… mas precisou ser de metrô mesmo. Não pirei, juro! É que tudo teria se encaixado, sabe? Se Nureyev era o assunto da vez alguns dias atrás (na passarela rotatória de Kim Jones na Dior masculina), a inspiração no balé também deu um salto para cair, exatamente, na nova coleção da Chanel. Caso não tenham percebido pelos tutus e tules volumosos, collants brancos e paletas pastéis, Virginie Viard rodou e rodou em cima do tema.

Em 1924 (um século atrás, vejam só!), Coco Chanel se tornou a primeira estilista a desenhar figurinos para um balé. Na ocasião, era “O Trem Azul”, produção vanguardista de Serge Diaghilev que contou com um time ilustre nos bastidores. Além de Chanel, a coreografia era de Bronislava Nijinskaz (irmã de Vaslav Nijisnki, bailarino-celebridade), os cenários de Pablo Picasso e os textos de Jean Cocteau. Há de concordar, no entanto, que o brilhou mesmo foram as roupas que dançaram no palco: leves, confortáveis e completamente modernas – uma audácia que só o espírito dos anos 1920 poderiam trazer. Mas essa década já ficou para trás e, hoje, vivemos os novos 20’s em que, na Chanel pelo menos, o balé foge ao literal e pousa no sonho.

Para supermodelo Naomi Campbell, com quem conversei depois do desfile, Virginie “fez lindamente a transição da feminilidade” na maison, depois da morte de Lagerfeld. Há um atenção sensível para o detalhes que, nessa temporada, se concentrou nos botões. Para a própria Coco, esses eram mais que detalhes fashionistas, mas símbolos de empoderamento feminino e, para além de decorar um modelo, deveriam ter utilidade. Por esse motivo, até hoje, nenhuma criação da marca carrega botões que não tenham uma casa para se encaixar.E se o legado deles já era grande na maison, dessa vez ficou enorme, com um botão de 12 metros de largura pendurada no teto da sala de desfile. Apoteótico, poético e perigosamente imponente! O cenário perfeito para uma apresentação que, com toda a liberdade de movimento, também contou com uma trilha sonora inédita de Kendrick Lamar. Para guardar e abotoar na memória – e na playlist!