Chanel, Métiers d’Art 2025 (Imagem: Divulgação)

Misticismo é assunto sério na Chanel. Não apenas porque a própria Coco tinha uma bola de cristal em seu apartamento na rue Cambon (e o endereço é fundamental na narrativa do novo desfile da maison, na China), mas porque, com ou sem diretor criativo, tudo aquilo que toca ganha tom e ritmos oníricos. Imagine só: dezenas de modelos desfilando sobre as águas do Lago Oeste, em Hangzhou, com looks preciosos refletidos no mesmo cenário que decora os biombos de coromandel adorados por Gabrielle. Em Paris, eu mesmo os vi com meus próprios olhos e não é nem um pouco difícil entender o frisson: tudo é tão exótico que quase não parece real. Mas é!

Coco mesmo nunca foi para a China. Talvez, a muralha fosse muito longa para atravessar com as sapatilhas ou, mais possivelmente, ela preferisse ficar só na imaginação. De um jeito ou de outro, que espetáculo ela perdeu. Tanggus (tambores chineses) anunciaram a entrada do primeiro modelito na passarela e continuaram até a mudança para outros instrumentos e sinfonias – cada um em sintonia com visuais minuciosamente costurados. É o Métiers d’Art, afinal.

Os clássicos estão todos lá: pijaminhas despojados, conjuntinhos de tweed, paetês brilhantes, matelassês acolchoados, colares de pérolas, cascatas de bijoux Goossens… e até os pretinhos básicos, decorados com pontos dourados, que competiram com o céu noturno. A erva do chá, como de costume, são os detalhes. Plissados Lognon, bordados Lesage, botas Massaro e golas Lemarié fizeram figurinos dignos da dinastia Ming, com cores de jade e padronagens de aves e pessegueiros nos mesmos moldes dos painéis pintados à mão de Coco.

É mitológico – e não é que as modelos pareciam mesmo qilins? Essas criaturas lendárias (meio cavalo, cervo, leão, búfalo, ovelha, tartaruga e dragão – e meio Chanel, por que não?) andam sobre as águas e trazem sorte e prosperidade na cultural chinesa. Quando são raramente avistadas, indicam o nascimento de um grande gênio. Foi assim, pelo menos, com Confúcio – e, nessa confusão toda, poderiam anunciar também a entrada de um novo criativo nos ateliês da maison. Esse sim é um negócio da China!