Quando o inglês Stuart Vevers assumiu a direção criativa da Coach, no fim de 2013, a histórica marca americana precisava de muito mais do que rejuvenescimento; precisava voltar a ser assunto. Em outras palavras, precisava ser relevante. Pouco mais de dois anos depois, podemos afirmar com absoluta certeza: missão cumprida. E a prova máxima disso está na Coach 1941, linha premium, limitada e focada no ready-to-wear, que acaba de chegar ao Brasil com a coleção de pre-fall 2016. “É uma evolução do que estávamos fazendo e é onde posso ser mais criativo e inovador”, diz Stuart, em entrevista à Bazaar.
Trata-se de uma extensão do que a marca já apresentava durante a semana de moda de Nova York. “Só que, antes, não dávamos nome a isso”, explica Stuart. Com as comemorações dos 75 anos da marca, pareceu certo enfatizar o esforço dedicado aos produtos mais nobres da coleção. Conforme as peças de ready-to-wear se tornavam mais importantes, tornou-se necessário dar nome próprio à linha. “Nosso primeiro lançamento, com a coleção de verão 2016, no ano passado, foi diferente de tudo o que a marca já fez. Superpeças de arquivo remixadas e reconstruídas para um novo contexto urbano, com patchwork, estampas exóticas, aplicações de couro e materiais em seu estado natural, não muito perfeito, nem muito precioso.”
Agora, com o pre-fall 2016, não é diferente. Quer dizer, é sim. Para melhor. “Me inspirei nas paisagens americanas e no espírito de individualidade – que só poderia vir de Nova York”, explica o estilista, que fez diversas viagens de trem pelo interior dos EUA. Assim como em temporadas passadas, o foco segue nos casacos e nas jaquetas, mas agora dividindo espaço com tricôs de motivos divertidos (de cactos a dinossauros), vestidos românticos com babados e florais e camisetas não tão básicas. Segundo Stuart, essa primeira coleção de meia-estação é uma ótima oportunidade para clarear sua visão. “A Coach está na transição de uma marca de acessórios, com peças de outerwear ocasionais, para uma marca completa de moda, com roupas e sapatos femininos e masculinos. Até agora, evitei criar um total look que pudesse ser interpretado como a silhueta Coach. Em vez disso, fiz coleções que reúnem itens vagamente relacionais, que funcionam juntos ou separados, com o único motivo de aproveitar a moda.”
Boa parte do sucesso da Coach (e os números crescentes de vendas estão aí para comprovar) vem da visão e compreensão de Stuart de que atitudes vendem mais do que tendências. “Estou interessado em criar peças com personalidade. Perfeição e formalidade não me interessam. Quero explorar a nova percepção de luxo – de roupas fáceis, sem esforço e menos formais. Estava andando para o trabalho, certo dia, e percebi que todas as garotas na rua usavam tênis ou botas, o que me levou a fazer algo com um grande senso de realismo, pegar isso como ponto de partida, adicionar design e construir em cima.”
A abordagem não é muito diferente daquela que a estilista Bonnie Cashin, a quem se atribui a invenção do conceito de american sportswear e que comandou o estilo da Coach no início dos anos 1960, usou para transformar a marca numa das mais icônicas da moda americana. “Quando olhei os arquivos, o período em que ela assumiu a criação, chamou minha atenção”, relembra Stuart. “Notei que minhas referências favoritas da Coach eram dessa época. Parecia um momento de muita ousadia, e Bonnie realmente ultrapassou as barreiras que determinavam o que a grife era e o que poderia ser. Ela começou a definir a mulher, e isso é muito importante: criar uma verdadeira identidade para a garota Coach e poder contar histórias sobre ela e sobre a label. E, para tanto, você precisa de uma coleção completa de ready-to-wear.”
Acelere uns 70 anos e essa garota hoje é a melhor síntese da nova-iorquina do século 21. Nem uptown, nem downtown. Mas um híbrido dos dois. Uma garota que valoriza personalidade, imagem própria e atitude. Que gosta de história, do passado, mas vive no presente e de olho no futuro. Que gosta de coturnos forrados de pele de ovelha, com vestidinhos de aspecto vintage e estampa feminina, mas combinados com jaqueta de baseball ou bomber com patchwork de couro. Que combina suéteres com estampas da vovó, com perfecto preta e calça de alfaiataria. “Ela é uma personagem marcante. Tem uma individualidade forte, elegância sem esforço e leveza de espírito, combinação que a faz absolutamente cool.” E Bazaar ama!