Há algumas temporadas tendo o Musée Rodin como templo para seus desfiles de alta-costura, as temporadas da Dior já se tornaram ritualísticas. No centro do altar, Maria Grazia Chiuri é alta-sacerdotisa que reúne fiéis de todos os lados. Dentro da sala de apresentação, eles surgem em forma de convidados e celebridades. Fora, são fãs e entusiastas que, na rue de Varenne, esperando capturar uma cena de toda a cerimônia. O que muda (sempre), são as parcerias artísticas que Maria Grazia elabora para transformar cada “santuário” de desfile em uma galeria de arte. Dessa vez, coube à Marta Roberti o papel de “Michelângelo”.
Italiana de Brescia e sonhadora com iconografias arcaicas, Roberti trouxe o tempo e a arqueologia como inspirações. Nas paredes, pintou deusas ancestrais, paisagens e cenas da fauna – um cenário que, em volta dos 66 looks da nova couture da Dior, foi mais que apropriado.
Na passarela, Maria Grazia pregou minimalismo monumental. Em silhuetas verticalizadas (sem os volumes espaços que já foram tema há duas temporadas de couture), a paleta foi quase lítica, em tons naturais que desfilaram em procissão do branco aos beges, pratas, dourados e pretos. E em toda aparente simplicidade visual, as construções e propostas surgiram complexas: os drapeados, canelados e plissados deram aos visuais a dádiva das texturas, ressignificando a alfaiataria masculinizada que é favorita no imaginário da diretora criativa.
Entre as modelos no panteão da Dior nessa temporada, a brasileira Isabela Correia, de Salvador, retornou às apresentações da maison, em um vestido com top rendado e saia branca plissada esvoaçante, no espírito clássico da coleção. E enquanto a fila final rendeu aplausos de pé para a estilista, o primeiro dia da semana de alta-costura marcou, no legado da casa francesa, mais um capítulo de protagonismo feminino (e feminista) entre suas coleções.
Veja na galeria os 10 looks que amamos da passarela da grife: