Collina Strada, verão 2026 – Foto: Reprodução/Instagram/@collinastrada

A New York Fashion Week abriu sua temporada de verão 2026 com um dia que refletiu o momento atual da moda: do pragmatismo de Michael Kors diante da crise climática ao experimentalismo tecnológico de Grace Ling, passando pela teatralidade da Collina Strada e pela estreia promissora de L’Enchanteur. Entre tradição e inovação, o primeiro dia já sinalizou o tom diverso que deve marcar a semana.

Michael Kors

Não é nenhuma novidade: a semana de moda de Nova York é a mais comercial do calendário oficial. Mas, mesmo assim, os designers que ainda não entenderam como as mudanças políticas, sociais e ambientais influenciam a moda, não tem mais espaço entre a multidão de criadores. E Michael Kors mostra em seu verão 2026 que achou uma forma de escapar deste grupo, sem abrir mão de apresentar o que sua cliente gosta.

Escapando para o deserto, a marca faz uma abordagem das mudanças climáticas de forma prática: com a elevação das temperaturas, as alfaiatarias pesadas ocupam cada vez menos espaço nos guarda-roupas femininos. Ao mesmo tempo, as roupas justas não são a melhor opção para quem quer se vestir bem dos dias que os termômetros e a umidade oscilam para seus picos. Sua passarela surge repleta de roupas leves, fluídas, que escapam do corpo ao mesmo tempo em que seguem elegantes.

Em uma cartela de tons que caminham para o por do sol, sarongues, saias transparentes, coletes amplos e uma praticidade no vestir são os principais destaques. E já anota aí: os maxiacessórios voltaram!

L’Enchanteur

Um dos estreantes da temporada, L’Enchanteur é comandada pelas gêmeas Dynasty e Soull Ogun e, em 2024, ganhou o prêmio de designers emergentes do CFDA. Apesar de ter ganhado fama com seus acessórios, a marca chega à NYFW com uma coleção que vai além das joias.

Na passarela, a coleção “20.000 Leagues / 20.000 Keys” se inspira nas figuras místicas do oceano, em construções arquitetônicas e fluídas ao mesmo tempo. As estampas e os volumes são os grandes protagonistas da apresentação, que ganha ares mais descontraídos com gravatas de polvo e lapelas em forma de tentáculos.

Jonathan Simkhai

Diferente de Michael Kors, a rota de fuga de Jonathan Simkhai termina na praia. Baseado em Los Angeles, o designer tem um olhar um pouco mais otimista sobre a realidade climática e acredita que o mar é suficiente para cessar as altas temperaturas. Desta forma, a inspiração é quase literal demais. Biquinis e maios usados sob jaquetas, paetês que invocam escamas de peixes e o trabalho da renda tentam deixar Nova York um pouco mais praiana – mas falham no quesito inovação.

Na contramão, o top e vestido de madrepérola que encerram a apresentação unem o artesanal a um material elegante, construindo um mix de transparência e alfaiataria bem mais interessante do que as peças desfiladas previamente.

Collina Strada

As apresentações de Collina Strada são sempre um espetáculo dentro da NYFW. Tanto por sua teatralidade, quanto por seu know-how de fazer a representatividade ser um dos principais cores da marca. Nesta temporada, a marca inova não apenas na localização do desfile – em um heliponto –, como também na forma em que ele é apresentado: os 21 looks surgem de forma duplicada, com a uma modelo desfilando a versão colorida seguida de perto por outra modelo coberta com um bodysuit preto transparente (dos pés à cabeça) e uma versão all black do mesmo visual. Ou seja, todo look foi apresentado com sua sombra.

Com essa proposta, Hillary Taymour une político e comercial de forma majestosa. Ao mesmo tempo em que aborda como existem políticas e histórias que se escondem nas sombras – invisíveis para uns, gritantes para outros –, a designer se prova mais uma vez como um nome a ser observado, já que coloca seu trabalho com as silhuetas em destaque. Ou seja, a cliente que não é conquistada pelas estampas e cores que tingem a Collina Strada, vê na opção all black como a estilista é especialista na construção de formas hipnotizantes.

Dando continuidade no seu trabalho com upcycling, a marca foca no exagero nesta coleção. O volume é o protagonistas, com amplas calças cargos se fundindo com o novo shape queridinho do balloon e, ao mesmo tempo, amarradas pelos polêmicos peplum. Uma silhueta impossível de ser esquecida.

Grace Ling

Em “Future Relics”, Grace Ling acha o equilibrio entre dois assuntos que o próprio nome da coleção já entregam: passado e futuro. Em uma fusão de tradicição e tecnologia, a designer abre e fecha sua apresentação com tops feitos em impressão 3D, como pétalas e espinhos metálicos, em uma releitura de artigos de ferro que ocupavam casas antigas, seja em abridores de cartas ou em outras decorações metalizadas.

Ao longo da coleção, o passado vai se esvaindo, com devorés desaparecendo na construção de uma peça, brincadeiras entre transparência e opacidade e o efeito queimado que colore diversas peças brancas. Tudo com uma sensualidade muito nata da marca, que encontra nos slip dresses, saias de cetim e jaquetas acinturadas, formas de exaltar a diversidade dos corpos que montam seu casting.

Kate Barton

Quem acompanha o trabalho de Kate Barton por sua icônica bolsa Fish Bag (que imita um peixe dentro de um saco plástico, como os vendidos em pet shops nos Estados Unidos) ou pelos vestidos cromados, pode estranhar a coleção de verão 2026 da marca em um primeiro momento. O motivo é que a designer optou por vestibilidade nessa temporada.

A verdade é que Kate entendeu a geração que consome moda pelas redes sociais. Diversas microtendências estão ali: os minivestidos sobrepondo meias-calças com a mesma estampa, o balonê mídi, a mistura do sportywear com o ultrafeminino, o preppy saído da universidade… Mesmo assim, é possível pescar itens muito interessantes, como as estampas que imitam o efeito cromado em materiais mais maleáveis ou os vestidos estruturados que carregam o brilho que gerou a fama da marca.