
Meu Estilo Robertita – Foto: Mucio Ricardo
Por Gilberto Júnior
Lais Roberta, conhecida nas redes sociais e no meio fashion como “La Robertita”, descobriu cedo que o combo camisa branca e calça preta não funcionaria para ela. Era preciso muito mais. Para solucionar essa equação, acreditou piamente que os acessórios poderiam salvá-la da monotonia, já que faltavam looks interessantes no mercado para mulheres do seu tamanho. “Nunca fui a menina magra. Sempre fui classificada como fora do padrão. No colégio, sofria bullying e enxerguei na moda uma possibilidade para validar minha personalidade”, diz a influenciadora paulista, de 28 anos.“No imaginário popular, para ocupar o lugar que estou, é necessário ser disruptiva de alguma maneira. Colares, brincos e chapéus foram o caminho que encontrei para ser transgressora. No fim, é uma compensação para a ausência de peças que me sirvam.”
Robertita conta que começou a agregar elementos às produções ainda na infância. Investia em pulseiras e bolsas; e não abria mão de enfeitar a cabeça.“O chapéu, definitivamente, é uma marca registrada. É cool, é representativo. Porém, não quero ser a garota de uma nota só. Não sou menos eu se estou sem o item”, observa ela, que costuma ir atrás de chapeleiros incensados pelo mundo. “Faço, na verdade, uma curadoria, garimpando preciosidades pelos países que passo. Com os designers brasileiros, a conversa é próxima e conseguimos criar juntos. É uma relação de afeto, em que um fomenta o outro.”

Meu Estilo Robertita – Foto: Mucio Ricardo
Historiadora de formação, a paulista de Osasco descobriu muito cedo o poder da imagem, ainda que não fosse fácil driblar os obstáculos.“Gostava de me vestir, mas não usava as tendências do momento. Colocava no corpo o que era pos- sível, o que eu tinha acesso. O bazar do bairro era uma reali- dade”, comenta Robertita.“Cresci admirando a minha mãe, uma metalúrgica extremamente elegante, que escondia sua feminilidade durante a semana para escapar de assédios. Hoje, mesmo com a indústria aberta ao diálogo da diversidade, não consigo entrar em uma loja e selecionar algo que já esteja nas araras. Meu trajeto é diferente.

Meu Estilo Robertita – Foto: Mucio Ricardo
Ligo e peço para as grifes (Isaac Silva e Neriage são algumas delas) desenvolverem algo sob medida para mim. É um processo bem mais artesanal, o que gera uma certa exclusividade. São infinitas provas de roupa até chegarmos a um denominador comum. Em suma, para as mulheres gordas, vejo mudanças mínimas. As etiquetas aumentaram centímetros no quadril e acham que a questão está resolvida. Mas, no fim do dia, o manequim 46 é, de fato, o 44. Continuamos não sendo contempladas.”
Nome presente – e potente – no meio desde 2015, a influenciadora percebe que houve um retrocesso nos últimos desfiles internacionais. A diversidade de corpos, pauta urgente e necessária, deu lugar ao velho padrão.“Posso fazer uma análise sob uma perspectiva otimista ou pessimista. Independentemente das ondas que vêm e vão, mulheres como eu, Letticia Muniz e Rita Carreira estamos aqui; as pessoas sabem da nossa existência. Para o público, é importante se enxergar em certos espaços. Ou seja: quando casas importantes nos deixam de fora, muita gente não se reconhece na situação.Vai além de mim.Todo um movimento social se precariza do ponto de vista psicológico. Não são apenas números. Essas idas e vindas do mercado, causam dor. Um dia, o corpo gordo é legal; no outro, não.”
Com campanhas para as redes C&A e Renner no currículo, inclusive com anúncios veiculados no horário nobre da TV Globo, Robertita afirma que desde muito cedo mobilizou a opinião pública. Só para se ter uma noção dos números, são mais de 100 mil seguidores engajados divididos no Instagram e no TikTok. “Gosto de liderar e a moda é uma ferramenta essencial nesse plano. Constantemente recebo mensagens elogiando meu estilo. A vestimenta é um reflexo do meu interior”, confessa a moça, que circula pelas passarelas e estúdios há oito anos. “Desbravei o terreno. Não existiam muitas pessoas gordas quando fiz minha estreia. No início, eu mesma cuidava de tudo. As oportunidades chegavam pelas redes sociais.Também era indicada por bookers que conhecia nos castings, ainda que não fizesse parte de agências.”

Meu Estilo Robertita – Foto: Mucio Ricardo
Requisitada para parcerias com as linhas de beleza das grifes Dior, Saint Laurent e Givenchy, Robertita acredita que seu sucesso é consequência direta de um estilo próprio.“Evidentemente que consumo o conteúdo de colegas, mas desenvolvi minha estética, não reproduzo o que há por aí. Tento imprimir no look o mood do dia”, entrega.“Ironicamente, a utilização da minha figura é uma ferramenta paupável. No futuro, não me imagino com uma marca de acessórios, o que todos apostam. Quero ser uma intelectual da moda, uma pesquisadora.
Desejo lançar livros e levar o tema para o campo antropológico.”A televisão é mais uma de suas metas.“Gostaria de ter um programa, levar minha mensagem para esse meio. TV Globo e GNT, vocês estão me vendo?”. Apostamos que sim!