Entre sangue, cetim e feitiçaria, o cinema de terror criou imagens que ultrapassaram o medo e viraram ícones de estilo. Foto: Colagem (Gabriel Fusari)

Há algo de irresistível no encontro entre o medo e o estilo. Desde que a Noiva de “Frankenstein” vestiu seu branco cirúrgico como se fosse Margiela, o terror aprendeu a desfilar. A imagem de Elsa Lanchester, envolta em bandagens que parecem couture, redefiniu o gótico como uma estética, não apenas um gênero. Décadas depois, Alexander McQueen transformaria o grotesco em gesto de beleza, misturando rendas rasgadas, látex e olhos vermelhos como se a passarela fosse um ritual de exorcismo. O que antes arrepiava passou a inspirar coleções inteiras, de Prada a Rodarte.

A noiva de Frankenstein. Foto: Reprodução

O cinema de horror é um arquivo de fantasias extremas. O tailleur verde-menta de Tippi Hedren em “Os Pássaros”, o vestido de cetim manchado de sangue de Sissy Spacek em “Carrie”, o corset cravejado de Tim Curry em “The Rocky Horror Picture Show”. Cada look sintetiza um tipo de medo: o do controle, o do desejo, o da libertação. É como se a roupa, antes de proteger, revelasse, e essa tensão sempre seduziu quem faz moda.

“Drácula de Bram Stoker” foi um marco de estilo e drama nos anos 90. Foto: Reprodução

Nos anos 1990, Eiko Ishioka elevou “Drácula de Bram Stoker” a uma ópera de tecidos e símbolos, transformando vampiros em criaturas de alta-costura. O colarinho de lagarto e os bordados de sangue se tornaram tão icônicos quanto o próprio Conde. No mesmo período, Catherine Deneuve, vestida por Yves Saint Laurent em “The Hunger”, consolidava a figura da vampira elegante, fria, imortal e coberta de cetim. Era o horror reescrito pelo luxo.

O século XXI refinou essa herança. “Black Swan” traduziu a obsessão em tule e penas, transformando o colapso em performance. “Midsommar” fez das coroas de flores uma alegoria da loucura e do delírio coletivo. E “The Love Witch” costurou feitiçaria e feminilidade em vestidos que parecem poções, feitos para encantar e envenenar ao mesmo tempo. Mesmo o pop dos anos 2000, de “Jennifer’s Body” às góticas colegiais de “The Craft”, manteve viva a estética da sedução fatal, onde o desejo sempre tem um custo.

No fundo, a moda sempre entendeu o terror melhor do que o cinema quis admitir. Ambos lidam com transformação, controle e o prazer de olhar o que assusta. Porque vestir o medo é o que todos fazemos: uma máscara, um brilho, um disfarce para o que pulsa por baixo da pele.