Givenchy recria lenços surrealistas em primeira coleção sem Matthew Williams (Foto: Divulgação e Reprodução)

Chegar na Givenchy, em Paris, é uma experiência monumental. Não apenas porque os ateliês da marca ficam na imponente avenida George V (basta atravessar a rua depois de sair da Balenciaga), mas porque as enormes portas azuis guardam décadas de histórias e segredos. Na última vez que em um desfile aconteceu por ali, em 2020, Clare Waight Keller ainda era a diretora criativa e a maison ainda fazia alta-costura. Saudades, saudades…

Dessa vez, não há mais alta-costura e nem diretor criativo. Matthew Williams, que debutou no final daquele mesmo ano, deixou oficialmente a Givenchy há pouco mais de duas semanas. Sua era na casa foi marcada por uma forte inclinação para street style e uma visão irreverente (por vezes até demais) sobre o significado de tradição. Ele mesmo jamais apresentou uma coleção nos ateliês da George V. Fosse por teimosia, orgulho, ego ou simplesmente experimentação criativa, ele preferiu desfiles ao ar livre e em salas minimalistas, com toque de futurismo.

É bastante simbólico, portanto, que a primeira apresentação da marca depois de sua saída tenha sido nos salões originais da casa, de 1959, ainda que sem muita pompa ou circunstância. Verdade seja dita, essa dificilmente será umas temporadas memoráveis da marca, com modelos elegantemente simples e simplesmente elegantes, criados pelo estúdio. Em seu tempo, Hubert de Givenchy dominou a extravagância discreta que, aqui, apareceu nos maiores e menores dos detalhes.

Há um mélange de materiais e camadas, cada uma com texturas diferentes que convidam ao toque. Algumas são macias, como os casacos de pele, enquanto outras apenas parecem ser – como um sobretudo prateado, cujo traço sutil sugere “pelinhos” que não estão lá. Outra ilusão de ótica está nos lenços estampados com mechas de cabelo, uma inspiração vintage (resgatada de 1953) no espírito surrealista que Hubert aprendeu com Elsa Schiaparelli.

Os chapéus são uma graça, no estilo pillbox que era o máximo do máximo entre os 50’s e os 70’s, mas o charme todo estava nos desenhos barrocos (bordados ou não) que decoraram algumas alfaiatarias. Ainda que excêntricos, são aristocráticos, como Givenchy. Um sobrenome mágico, com oito letrinhas que fazem da moda um sonho!