Delfina Deletez, herdeira do clã Fendi, é mais conhecida pelas joias de referências surrealistas, mas, na nova colaboração para a casa da qual sua mãe é diretora de criação, o foco foi um pouco diferente, ainda que tão precioso quanto. São dela os novos modelos da coleção de alta-relojoaria da marca italiana,batizada de Policromia. Ao todo, são 20 relógios mecânicos de ouro branco e amarelo, com caixas de 33mm e 38mm e mostradores em combinações assimétricas de pedras preciosas e diamantes. A seguir, a designer conta detalhes de seu processo criativo nesta primeira empreitada no mundo dos relógios.
Você já colaborou com a Fendi na criação de joias de moda, mas, agora, foi chamada para criar um relógio de alta-joalheria. Como foi a experiência?
Foi incrível,uma oportunidade realmente desafiadora. Foi o primeiro relógio que desenhei e era um relógio de haute joaillerie. Queríamos criar uma coleção muito exclusiva, com modelos altamente preciosos dotados de elementos místicos que celebrassem o tempo e a elegância de maneira sutil.
O que significa Policromia e por que escolheu esse nome?
Policromia vem do grego e significa poly (muitas) e khrôma (cores), incorporando a ideia de diversas cores reunidas e, ao mesmo tempo, evocando uma deusa surreal que vive em um mundo distante. Uma divindade poderosa e feminina,com poderes místicos e virtudes que influenciam o tempo e dão forma ao futuro.A palavra me lembra a ideia de combinar diversas pedras em diferentes superfícies, criando algo como talismãs modernos. Objetos preciosos que conferem força e poder ao pulso, celebrando minha estética, em que o surrealismo se encontra com a elegância conceitual.
O que a inspirou na criação?
Os elementos e materiais usados nos relógios celebram Roma e seu magnetismo eterno, mas de uma maneira indireta. As camadas se misturam em um jogo de volumes cheios e vazios, evocando o Palazzo Della Civilità Italiana, a nova sede da Fendi, na capital italiana, com seus arcos através dos quais brilha a luz, marcando o tempo de uma maneira singular e surpreendente. Eclipses elegantes criam superfícies sobrepostas sobre o mostrador do relógio, inspirado na estrutura arquitetônica da cidade, com suas ruas ímpares.
De quais características dos relógios você mais gosta?
Adoro o efeito 3D, o formato arrojado, com o mostrador diferenciado composto de diversas camadas. Isso cria um formato verdadeiramente único! E, depois, tem o mix de materiais: malaquita, lápis-lazúli, sílex e outras pedras preciosas reunidas com madrepérola, ouro e diamantes, dando vida a um perfeito mosaico moderno, natural e tecnológico.
Qual o seu modelo predileto?
Meu predileto é o de malaquita verde.Adoro esse mineral, principalmente por sua cor viva e seu padrão diferenciado, que dá ao relógio um poder hipnótico. É repetido e, ao mesmo tempo, diferente, criando uma ilusão de tempo passando, como se fosse um portal temporal de luxo.
Como essas peças refletem sua personalidade?
Elas são ecléticas e místicas. Fundem tradição e inovação, valores que são caros para mim e para a Fendi. O relógio também é poderoso, suas vibrações atraem uma mulher autoconfiante em busca do que há de mais sofisticado. Você pertence à quarta geração das mulheres Fendi. Em que medida isso a influenciou? Minha família e minha mãe sempre foram inspirações para mim. Cresci cercada de mulheres excepcionais unidas pelo talento e pela criatividade – todas com personalidades muito fortes e muito diferentes, mas, de certa forma, complementares.Vivendo com elas, aprendi a apreciar o valor estético de tudo o que me cerca. A energia feminina é bastante dominante no legado Fendi.
Você acha que isso é importante para suas inclinações, seus gostos e a maneira como cria?
A energia feminina é mesmo predominante na minha família. Me deu a inspiração, a curiosidade e a força de vontade para desenvolver meu próprio gosto. Quando tinha 10 anos de idade, voltei do colégio interno com uma atitude punk,mas minha mãe nunca disse não à experimentação.Foi esse o ambiente em que cresci e foi essa a mentalidade que sempre me inspirou. Era muita liberdade.
Qual o seu valor em comum com a Fendi?
Gosto de criar aquilo que ainda não foi criado, ir além daquilo que já existe e isso está perfeitamente alinhado com o lema da Fendi,que é“nada é impossível”.Também amo a dualidade,que é um dos valores da marca e parte de seu forte DNA, sempre com um olho na tradição e outro no futuro






