Moschino verão 2024 – Foto: WWD

Tudo é protesto na pós-modernidade. Das discussões nas redes sociais, às invasões saborosas de ativistas em desfiles de moda exclusivos e, até mesmo, o ato banal de usar uma camiseta. Essa ideia da peça como objeto de manifestação social não é história nova, principalmente na moda. Um básico moderno presente (não ironicamente) em quase todos os guarda-roupas, a camiseta se popularizou em meados do século 20 entre as grandes guerras mundiais, quando era utilizada pela marinha dos Estados Unidos. Depois começou a ser considerada uma roupa simples para atividades físicas no final de semana.

A coisa mudou mesmo quando essas camisas, feitas de materiais como lãs e tricôs, se desenvolveram em conjunto com a indústria têxtil, e criado a famosa camiseta de jersey – um tecido mais fresco que poderia até mesmo ser usado de forma mais justa. A verdade sobre a popularidade da peça é tão clara no imaginário da cultura pop como qualquer outra: ninguém resiste a um bad boy, que além da jaqueta de couro, é composto por uma camiseta justa branca, que se tornou uniforme deles.

O estopim foi a adição a grandes figuras masculinas de Hollywood adotando a camiseta branca em seus filmes, Montgomery Clift em Um Lugar ao Sol (1951), Marlon Brando em O Selvagem (1953) e James Dean em Juventude Transviada (1955). A camiseta oficialmente entrou de vez no vestuário popular, com novas versões em diferentes tecidos e formatos sendo adaptadas para o guarda-roupa masculino e feminino na época.

O Selvagem (1953) – Foto: IMDB

À medida que passou a ser uma roupa comum, tornou-se uma folha em branco para mensagens políticas, publicitárias ou humorísticas. Na década de 1970, elas se tornaram verdadeiros cartazes de protestos em forma de roupa e, graças a todas as suas conotações sociais, assumiram caráter subversivo. Tudo isso foi possível graças aos avanços na indústria têxtil e gráfica na década de 1960, que foi inventada a tinta “Plastisol”, que mudou a velocidade e o custo de impressão em roupas. Desta forma, as “telas em branco” poderiam ser produzidas rapidamente.

Um dos maiores exemplos? O encontro, em 1984, entre Margaret Thatcher e a estilista britânica Katharine Hamnett, que vestiu uma mensagem antinuclear em letras garrafais. Quase duas décadas antes, em 1966, um grupo de mulheres se reuniu em frente à Dior, em Paris, com placas em defesa ao uso da minissaia. No mesmo ritmo de protestos, a temporada recente de verão de 2024 foi tomada por sua cota de “penetras”, com manifestantes do PETA entrando nas passarelas de Coach, Burberry e Gucci.

Fato é que, bem-vindas ou não, as opiniões fazem parte do calendário fashion. Estavam lá, com ativismo feminista, nas camisetas de enorme sucesso comercial de Maria Grazia Chiuri para a Dior (com os escritos “We Should All Be Feminists”) e de Prabal Gurung, com “The Future is Female”. E se não há como escapar – nem das camisetas, nem dos protestos – o jeito é unir os dois, com muita atitude!

Timeline – Moda de Protesto:

1960

The Runaways Garotas do Rock (2010) – Foto: IMDB

Graças aos avanços das indústrias têxtil e gráfica nesta década, novos processos mudaram a velocidade e o custo da impressão em telas em branco. No caso, as camisetas, que ganharam slogans de todos os tipos, de nomes de bandas a causas ativistas.

1980

Primeira Ministra Margaret Thatcher conhece a designer Katharine Hamnett – Foto: Getty Images

A estilista britânica Katharine Hamnett ficou famosa ao usar uma camiseta política em encontro com Margaret Thatcher.

2002

Gisele Bündchen no desfile da Victoria’s Secret em 2002, palco de protestantes do PETA contra o uso de peles na moda (Foto: Getty Images)

Ativistas do People for the Ethical Treatment of Animals (PETA) invadiram as passarelas da Victoria ‘s Secrets em 2003, com ataque direto a Gisele Bundchen, contra o uso de peles.

2005

Paris Hilton no lançamento de “Chick by Nicky Hilton” – Foto: Getty Images

No lançamento da linha de roupas de sua irmã, Nicky Hilton, o ícone dos anos 2000, Paris Hilton, aparece com os dizeres “Stop being desperate” (Pare de ser desesperado). Essa se tornou uma das imagens mais famosas da socialite.

2010

Karl Lagerfeld no verão 2015 da Chanel – Foto: Getty Images

Na temporada de Verão de 2015, a Chanel, liderada por Karl Lagerfeld, transformou a passarela em um enorme protesto, com modelos como Gisele Bundchen e Cara Delevigne, portando cartazes e megafones, gritando dizeres feministas como Ladies First (Damas Primeiro).