Foto: Reprodução/Instagram/@yuhanwangyuhan

Nesta temporada, a London Fashion Week destacou o romantismo inglês não como nostalgia literal, mas como narrativa experimental. Entre referências à corte de Marie Antoinette e à delicadeza da adolescência, designers como Erdem Moralıoğlu e Simone Rocha transformaram silhuetas históricas e atmosferas grandiosas em reflexões contemporâneas sobre a feminilidade.

A estética dessa tendência configura um romantismo desconstruído, em que elementos históricos não se reproduzem de forma literal, mas renascem por meio de recriação crítica e poética. O olhar recai sobre a opulência do Rococó de Marie Antoinette, a rigidez vitoriana e os bailes debutantes do século XIX, reinterpretados em chave contemporânea que introduz vulnerabilidade, estranhamento e experimentação. Silhuetas clássicas — panniers, crinolinas, rendas e tafetás — surgem distorcidas, fragmentadas ou sobrepostas a materiais inesperados, num gesto que ressignifica a herança do passado. Essa justaposição entre memória histórica e subversão atual sustenta um diálogo atemporal: a feminilidade se revela como campo em constante disputa entre tradição e reinvenção, onde delicadeza se alia à força e nostalgia se funde à imaginação visionária.

Já em outro eixo estético, o foco recai sobre volumes esculturais, cores saturadas e referências retrô reinterpretadas com frescor contemporâneo. Vestidos em tons de coral, amarelo e lilás dialogam com a opulência dos anos 1960, reforçada por penteados altos e maquiagens cintilantes que evocam um glamour vintage. A geometria das saias estruturadas e os detalhes exagerados — babados, maxi botões e texturas plissadas — criam impacto visual imediato, enquanto plataformas coloridas adicionam irreverência juvenil à sofisticação dos trajes. O resultado é uma celebração da feminilidade expansiva e lúdica, onde moda se transforma em espetáculo e afirmação estética.

Foto: Reprodução/Instagram/@erdem

Erdem apresentou um romantismo fantasmagórico inspirado na médium francesa Helene Smith, que afirmava ter vivido na corte de Marie Antoinette e até criado uma linguagem marciana. Nos bastidores de seu desfile no British Museum, Moralıoğlu explicou que seu trabalho se baseou nos “ciclos românticos” de Smith, diagnosticados pelo psicólogo Theodore Flournoy. A coleção trouxe vestidos com panniers e rendas vitorianas, bordados desgastados e tecidos que evocavam a Índia, combinados a detalhes gráficos do “alfabeto marciano” da médium. O resultado foi uma narrativa poética que mistura passado e imaginação, delicadeza e destino trágico.

Foto: Reprodução/Instagram/@simonerocha_

Simone Rocha transformou o Mansion House — residência oficial do Lord Mayor de Londres — em um baile debutante subvertido. Inspirada por fotografias de Justine Kurland e textos sobre autoimagem na adolescência, Rocha apresentou crinolinas tortas, organzas com flores prensadas e tafetás lustrosos, revelando a tensão entre grandiosidade e vulnerabilidade. Detalhes lúdicos, como bolsas em forma de travesseiro, sapatos Crocs decorados e flores reais aplicadas às roupas, reforçaram a sensação de feminilidade em disputa, na qual força e fragilidade coexistem.

Foto: Reprodução/Instagram/@yuhanwangyuhan

Yuhan Wang trouxe outra abordagem ao mergulhar no universo surrealista de Mulholland Drive, de David Lynch. A passarela exalava rolos de fumaça enquanto o público tomava seus lugares, criando um cenário onírico que refletia a inspiração da coleção. Wang explorou o tema da identidade feminina fragmentada sob o olhar masculino e o transformou em narrativa de empoderamento: mulheres convertidas em heroínas de si mesmas. Entre referências diretas ao filme — como o reaproveitamento do cardigã vermelho de Elsa, bolsas cheias de notas falsas e gráficos que ironizam papéis sociais impostos às mulheres —, a designer uniu a delicadeza de rendas à teatralidade de armaduras e estampas de rosas, propondo um romantismo moderno que oscila entre sonho, poder e vulnerabilidade.

Foto: Reprodução/Instagram/@paulcostelloeofficial

Já na coleção de Paul Costello revela um romantismo exuberante e feminino, que se expressa por meio de volumes esculturais, cores saturadas e referências retrô atualizadas com frescor contemporâneo. Vestidos em tons delicados de coral, amarelo e lilás evocam a opulência dos anos 1960, enquanto penteados altos e maquiagens cintilantes reforçam uma aura de glamour vintage. As saias estruturadas e os detalhes exuberantes — como babados, maxi botões e texturas plissadas — intensificam o impacto visual, equilibrando teatralidade e sofisticação. Já as plataformas coloridas acrescentam leveza e irreverência juvenil, transformando a feminilidade em espetáculo: uma celebração lúdica, expansiva e ao mesmo tempo sofisticada, que reafirma a moda como espaço de afirmação estética.