Maison Margiela Artisanal, primavera/verão 2024, em Paris, por John Galliano (Foto: Pierre Suu/Getty Images)

Mais um escândalo para a conta: John Galliano faz tudo e mais um pouco e a moda adora! Dessa vez, foi debaixo da Ponte Alexandre III, em Paris, em clima de speakeasy cheio de gente doida, modelos esquisitas e visuais malucos. Não é divino? Quem não odeia amar Galliano, com certeza ama odiá-lo. “Mas eu não preciso do seu amor. Eu amo a mim mesmo”, foram as palavras cantadas na performance que abriu seu último desfile na Maison Margiela, teatral, dramático, erótico, histérico e imune à frigidez.

Nas palavras de Patricia Carta, publisher da Harper’s Bazaar Brasil, “gente banal não rende assunto” e deve ser por isso que Johnny é o frisson da vez. Desde que começou a agitar a moda nos anos 1990, o estilista inglês tirou a virgindade de muita gente, mais pelas provocações violentas do que por carícias e nuances (palavras inexistentes no seu vocabulário criativo). Galliano, afinal, é choque e chique – como, talvez, Regina Guerreiro deixaria escapar.

Maison Margiela Artisanal, primavera/verão 2024, em Paris, por John Galliano (Foto: Pierre Suu/Getty Images)

Nunca houve – e nem há – nada de suave sobre sua moda. Na nova coleção, os corpetes sufocantes (de tirar o fôlego, literalmente) comprimiram tudo que as transparências e penteados rebeldes – meio Belle Époque, que ele ama desde sua era na Dior – libertaram. As alfaiatarias, com boinas e pérolas em lugares inusitados, deram um ar de “anos 30” em clima noir surrealista, digno das atmosferas clicadas pelo fotógrafo húngaro Brassaï, um dos favoritos do designer. Os rostos vieram lambuzados de óleo e maquiagens pesadas, no estilo medonho e hipnótico das pinturas do holandês Kees van Dongen e das bonecas de porcelana vintage que John adora colecionar.

Maison Margiela Artisanal, primavera/verão 2024, em Paris, por John Galliano (Foto: Pierre Suu/Getty Images)

Desse thriller retrô, pincelado por silhuetas cheias de volumes e curvas, decoradas com guarda-chuvas quebrados, os modelos pareciam saídos de um brechó vitoriano, vítimas de uma revolução industrial exagerada na qual apenas Galliano consegue explorar beleza. É a receita para seu universo paralelo: criar, sem amarras (ainda que seus visuais as tenham aos montes), um caos estético que faz todo sentido. O resultado? Obsessão completa e imediata entre fashionistas recém-inspirados por uma temporada delicada (para não dizer morna) na alta-costura. O finale, ao menos, ferveu.