Por Luigi Torre
Em sua segunda coleção de prêt-à-porter para a Maison Margiela (e quarta no total), John Galliano se mostra muito mais à vontade no posto de diretor criativo. Tão à vontade que retoma alguns dos principais elementos que marcaram suas coleções quando na Dior. O estilo ladylike às avessas, meio trashy, o japonismo, a ironia sobre símbolos burgueses e toda a exuberância teatral na apresentação. Semelhante, sim, mas diferente. Onde antes haviam apenas tecidos nobres e processos manuais da couture, aqui há materiais reaproveitados, peças cobertas de tintas, alguma desconstrução e coisas fora do lugar – a bolsa como mochila com amarração de obi sendo a melhor e mais comentada delas).
Excêntricas na essência, são roupas que carregam paradoxos recorrentes na moda de agora: peças que combinam ricos tecidos vistosos com materiais brutos, não raramente com efeito futurista – cacos de espelho penduradas em correntes, combinações de cores inusitadas e quimonos com modelagem de roupas do anos 1950. Soa fantasioso, de fato, mas o efeito é bastante comercial. Principalmente quando em temas quentes do momento, como as dicotomista entre masculino e feminino, novo e velho, decorações frívolas com outras funcionais.
É verdade, a Margiela de John pouco se parece com aquela de Martin. Começa que agora é muito mais romântica do que moderna. Também é mais nostálgica e glamourosa, ainda que de maneira subversiva. Mas se a imagem é outra, a atitude nem tanto. Afinal, subversão e humor são dois pilares no legado de Margiela, e sobre os quais Galliano segue se apoiando e reconstruindo a sua própria maneira: hiperbólica, extravagante, britânica e sempre teatral.