Por Luigi Torre

Desta vez, não haviam drinks na entrada – e todo mundo sabe que os drinks, bem como o convite (nesta temporada, uma espécie de caderno de anotações ou diário) diz muito sobre o que veremos na passarela da Prada. Na tarde desta quinta-feira (25.02), eles foram servidos após a apresentação. Tipo final feliz. E isso, de novo, diz muito sobre o que  Miuccia Prada quis comunicar com seu inverno 2016.

Basicamente, que não importa o ponto de partida, mas, sim, o destino. Ou onde se quer chegar. A localização exata, porém, vai de cada um. Na visão desta, que é uma das mais inteligentes, sensíveis e críticas pensadores (e fazedora) de moda, é um lugar um pouco melhor do que hoje. Otimista define.

E começamos exatamente como paramos, em janeiro, quando aconteceu o desfile masculino de inverno 2016. Ali, numa passarela feita de praça pública, marinheiros sobreviventes vestiam o que sobrou de seus trajes, meio sujos, meio gastos. Vividos. E assim também entram suas mulheres, com seus trajes náuticos e militares, silhueta anos 1940 e tudo que restou de um tal rigor de alfaiataria. Mas, agora, tudo aliado a uma quase perversa e incontrolável sensualidade. Como paixão mesmo – ainda que controlada por cintos-corset, ombros marcados, botões fechados e meias de lã sobre saltos altos ou sapatos utilitários.

Como seus pares masculinos, essas mulheres também sobrevivem. E não esquecem. Provavelmente nunca esquecerão. Carregam o peso da história em colares e cintos com pequenos livros metálicos, saias com estampas fotográficas ou ilustrativas – reais ou surreais, oníricas até. E assim, a partir do que já foi, sonham e constroem o que será. Se livram das amarras sóbrias, opressoras (traduzidas em formas pesadas, tecidos encorpados e nas formas corsetada), para abraçar a possibilidade da leveza, da beleza e da delicadeza (expressa em vestidos de seda com bordados dourados, estampas suaves e florias).

É que Miuccia entende as mulheres e sua realidade como poucos. E essa coleção é mais fiel, verdadeira e atual tradução de seus anseios, sofrimentos, dores e delícias. É sobre a mulher que não se conforma, luta, viaja, evolui, ama. Ou, como disse a própria, depois do desfiles, “a natureza da mulher é complexa e indescritível… Como uma boneca russa, uma dentro da outra.” Em outras palavras, em camadas. Recurso de styling recorrente na temporada e, mais ainda, nesta coleção. E camadas não só de peças, mas de referências e, nas palavras dela, “símbolos”. Mas diferente de como temos acompanhado aos montes, aqui com direção e significado precisos e profundos. Porque, nas palavras de Miuccia, “precisamos entender quem somos hoje.”

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