
“La Famiglia” é a primeira coleção da Gucci assinada por Demna (Foto: Catherine Opie/Divulgação)
Demna está em baixa voltagem. Perigo? Abrigo! Está verdadeiramente instalado na Gucci (de surpresa, revelou sua coleção de estreia nesta madrugada) e, pela primeira vez, tem o sentimento de plena liberdade. Ele jura que ainda não é sua “visão definitiva”, mas provou que já entende do negócio.
Desde que se mudou para Milão em julho, depois de 15 anos fixos em Paris, os rumores eram de que estava mergulhado nos acervos em Florença, enamorado com o minimalismo sensual de Tom Ford. Era tudo verdade – e os 37 looks inéditos contam a história desse flerte comportado. Sim, Demna não está radical: fez o que fez na Balenciaga (uma revolução violenta de códigos) apenas para pisar na Itália e decidir ser fiel à personalidade da casa nova. Repare nos detalhes: horsebits, monogramas ‘GG’, a clássica estampa ‘Flora’… estão todos em “La Famiglia”, nome da coleção recheada de arquétipos e personagens que ele imagina como um retorno às narrativas contadas através das roupas.
Um casaquinho vermelho, à la anos 1960, é incorporado por ‘Incazzata’ – um estilo simbólico que o lembra da primeira roupa que venerou (e perdeu) quando era pequeno. Meninos atrevidos – com sungas diminutas – assumem os papéis de ‘Bastardo’ e ‘Ragazzo’, e adictos de redes sociais aparecem como ‘L’Influencer’. Demna, que só ouviu falar da palavra “sprezzatura” há pouco, fez de ‘Primadonna’ uma mártir da elegância italiana, enquanto a garota exibida é ‘La Principessa’. Um casaco azul elétrico, aliás, é a cara de Sophia Loren, e uma ou outra femme fatale aparece por aí.
O respeito aos símbolos tradicionais da Gucci é um susto para quem se acostumou à estética apocalíptica irreverente do designer, mas isso ficou no passado. Ele acha que, nos últimos anos, pouco se fez pelo legado da marca nas passarelas e, em uma alfinetada nada discreta ao predecessor Sabato de Sarno, fez questão de lançar um baú monogramado em homenagem às origens de Guccio Gucci como fabricante de malas nos anos 1920.
Entre as novidades, as misturas de minimalismos e maximalismos (alô, Alessandro Michele, com suas peruas de plumas e circunstância) mostram que Demna não está em clima para revoluções. Dá até para dizer que é puramente estético, mas não disfarça a estratégia: há cinco dias, a Gucci ganhou uma nova CEO e o cenário fashion vive tempos impacientes com estilistas experimentais. Ir com calma pode levar Demna longe… e ser um choque mais leve para fashionistas corporativos.