Do revival do Moon Shoe à NikeSkims de Kim Kardashian, a gigante esportiva busca recuperar relevância no mercado global com nostalgia e moda. Foto: Reprodução

Em 1972, um par de tênis feitos à mão marcou a estreia da Nike no mundo: o Moon Shoe, criado com solado waffle para corredores olímpicos em Munique. Pouco mais de 50 anos depois, o modelo volta aos holofotes, reeditado pelo estilista francês Simon Porte Jacquemus em três cores — Black, Pale Yellow 2 e Dark Red. O retorno do produto funciona como metáfora de um momento delicado: a Nike olha para o passado para redesenhar seu futuro.

Nos últimos anos, a marca viu uma década de crescimento dar lugar a sinais de desgaste. As ações perderam força, concorrentes ganharam terreno com designs mais ousados e, em Beaverton, vieram demissões em massa. O então CEO John Donahoe deixou o cargo em meio à pressão e abriu espaço para um novo nome: Elliott Hill, funcionário que iniciou sua trajetória como estagiário em 1988 e hoje assume o comando global.

A missão de Hill é ambiciosa. Além de equilibrar os números, o executivo precisa recuperar a conexão emocional da Nike com consumidores e atletas. Seu plano passa por três pilares: valorizar a herança esportiva, apostar em tecnologias de inteligência artificial para experiência de consumo e retomar o apelo cultural por meio de collabs com impacto na moda.

É nesse cenário que o Moon Shoe assinado por Jacquemus extrapola o fenômeno da nostalgia. Ele sinaliza uma estratégia em que o retrô encontra a peça de moda. O mesmo se aplica à criação da NikeSkims, parceria com Kim Kardashian, que estreou com sete coleções e 58 silhuetas de activewear. O projeto mistura performance com estilo de vida, reforçando o athleisure que Kim ajudou a popularizar.

Outro capítulo importante vem com a volta de Riccardo Tisci. Após sete anos longe, o estilista italiano, conhecido por imprimir luxo à estética esportiva, retornará com bolsas e sneakers que já despertam expectativa no mercado. A presença de nomes como Jacquemus, Kim Kardashian e Tisci no portfólio da Nike mostra um caminho de reaproximação com o universo fashion, ampliando seu alcance além das quadras e pistas.

As colaborações, no entanto, não são apenas vitrines. Elas se conectam a uma mudança mais profunda: a Nike planeja diminuir a produção em massa de retrôs e gerar receita também a partir de estoques existentes, enquanto prepara lançamentos estratégicos que se tornem desejo imediato. O risco é alto, mas a leitura é clara — para competir em um mercado saturado, não basta repetir fórmulas, é preciso criar histórias que cruzem performance, cultura e moda.

Entre incertezas financeiras e a pressão por inovação, a gigante do swoosh aposta que essa soma de nostalgia e criatividade pode ser a chave para recuperar o fôlego, isso se tiverem motivo para coexistirem. No fim das contas, o desafio da Nike hoje é o mesmo que motivou o primeiro Moon Shoe em 1972: correr à frente do tempo