Foto: Reprodução/Instagram/@karllagerfeld

Falar de Karl Lagerfeld é falar de um dos maiores nomes da história da moda. Hoje (10.09) estaria completando 92 anos, com uma trajetória digna de um império. Todos que são apaixonados por esse universo sabem da sua importância na Maison Chanel e de como ele trouxe a marca para a contemporaneidade, elevando-a com sua direção criativa. Karl era único, praticamente insubstituível, um talento nato que passou por Chloé, Fendi e também dirigiu a criação na sua própria casa de moda homônima.

Lagerfeld  em 1955, iniciou a sua carreira como assistente de Pierre Balmain, depois teve uma longa trajetória na Chloé em 1964, quando começou a desenvolver algumas peças por temporada até assumir o desenho de toda a coleção. Em 1970, colaborou com a casa de moda romana Curiel, sob o comando de Gigliola Curiel, falecida em novembro de 1969. Sua primeira coleção para a marca foi descrita como possuidora de uma “drippy drapey elegance”, remetendo ao glamour das estrelas de cinema dos anos 1930. Na passarela, todas as modelos usavam perucas loiras curtas e desfilavam peças como shorts e vestidos de veludo preto, acompanhados de capas longas.

Em 1972, Lagerfeld iniciou sua colaboração com a grife italiana Fendi, onde desenvolveu peles, roupas e acessórios, parceria que durou décadas. Na mesma época, também expandiu seu trabalho para o teatro, criando figurinos para produções dirigidas por nomes como Luca Ronconi e Jürgen Flimm. Entre os palcos para os quais desenhou figurinos estão o La Scala, em Milão (Les Troyens, 1980), o Burgtheater, em Viena (Komödie der Verführung, 1980) e o Festival de Salzburgo (Der Schwierige, 1990).

Em 1983, foi nomeado diretor artístico da Chanel, assumindo as coleções de alta-costura, prêt-à-porter e acessórios. Sua missão era perpetuar o espírito da fundadora, Coco Chanel, falecida em 1971, e ele cumpriu com maestria, devolvendo frescor e relevância à maison. Na década de 1980, escolheu Inès de la Fressange como musa para reencarnar a imagem moderna da marca.

Páginas do caderno de anotações de Karl Lagerfeld – Foto: Divulgação

Multifacetado, Lagerfeld foi além da moda e construiu uma sólida carreira na fotografia. A partir de 1987, passou a assinar pessoalmente as campanhas publicitárias das marcas em que atuava, como Chanel, Fendi e sua grife homônima. Também produziu editoriais para revistas de prestígio, publicou livros e expôs seu trabalho em galerias de arte. Em parceria com a editora Steidl, criou o selo LSD (Lagerfeld. Steidl. Druckerei. Verlag), dedicado a obras sobre moda e arte. Seu estilo fotográfico era marcado por dramaticidade e iluminação de alto contraste, realçando a beleza das modelos e os detalhes das peças.

Afachada e interior da 7L, livraria pessoal de Lagerfeld, que foca em publicações de arte, moda e design – Foto: Divulgação

Sua obsessão por papel, livros e fotografia deu espaço para um projeto inusitado. Nasce a Librairie 7L. Atrás da porta de vidro no número 7 da Rue de Lille, em Paris, revela-se um mergulho no universo particular de um dos nomes mais marcantes da moda. Foi em 1999 que o estilista alemão, que durante 36 anos conduziu a Chanel com genialidade, decidiu transformar uma antiga galeria de arte em um lugar que reunia três de suas maiores paixões: fotografia, livros e criação.

Entre paredes forradas por cerca de 33 mil volumes, dispostos do chão ao teto de maneira quase caótica, a 7L abriga referências que vão de Goethe a David Bailey, passando por Andreas Gursky. Ali, Lagerfeld passava horas solitárias revisitando campanhas da Chanel, explorando press kits e registrando retratos de personalidades. Em entrevista ao curador Hans Ulrich Obrist, em 2014, o estilista resumiu sua obsessão: “Meu paraíso é uma biblioteca… Sou um fanático por papel. Não me interessava por nada além de livros, livros, livros e papel de desenho.” Uma confissão que revela a dimensão afetiva e criativa do espaço.

Croqui assinado por Karl Lagerfeld – Foto: Getty Images

Seu talento se expandia por toda sua visão de moda, seus croquis traduziam muito bem isso, eram expressivos, cheios de personalidade e eram fundamentais no seu processo criativo, desenhando-os pela manhã. Não utilizava lápis de cor e sim maquiagem para pintar. Karl era apaixonado por seu trabalho, nunca quis se aposentar, dizia que morreria trabalhando. Seu fascínio e obsessão pelo mundo da moda o tornou esse símbolo, que transformou sua própria imagem em uma marca mundialmente conhecida.

Karl Lagerfeld foi além de um criador de roupas: fez de si mesmo uma obra de arte, transformando sua imagem em ícone e sua visão em legado eterno para a moda.