Foto: Gaspar Ruiz

A estreia de Sabato de Sarno na Gucci é daqueles assuntos que parecem complexos demais para serem conversados uma única vez. Há sempre mais para ser dito, contado, lembrado… Um detalhe que passou. E se o sucesso de seu début sugere algum sinal, é de que as próximas temporadas não vão ser diferentes.

Esse texto que você lê, aliás, está sendo escrito dentro de um avião, de madrugada, rumo a Paris para a semana de moda. Não deveria esse, portanto, ser o foco principal do momento? Com Sabato de Sarno em jogo, não dá para pensar algo que não sua coleção para a Gucci – e ele mesmo garantiu a obsessão coletiva. Desde que foi anunciado em janeiro, seguindo a saída do predecessor extravagante (e não menos revolucionário) Alessandro Michele, o ex-Dolce-&-GabbanaPradaValentino tornou-se, apesar dos seus 40 anos, o it-boy entre fashionistas.

A expectativa era alta e espera igualmente longa em um mundo acostumado com o fast-fashion: foram dez meses entre o anúncio de Sabato na Gucci e seu desfile de estreia – quase o dobro do tempo em que Ludovic de Saint Sernin, outro queridinho, ficou no comando da Ann Demeulemeester. Nesse intervalo, o time de design da Gucci apresentou duas coleções que, já no caminho contrário à estética vintage e andrógina de Michele, aproveitaram sucesso. As pranchas e skates da coleção resort, por exemplo, viralizaram.

Nas semanas antes de debutar, Sabato também já dava os primeiros vislumbres de sua visão. Em agosto, ele compartilhou um spoiler de sua primeira campanha, fotografada por David Sims na piscina do Château Marmont, em Los Angeles. A estrela era a modelo (e amiga de longa data) Daria Werbowy, usando as joias inéditas da linha “Marina Chain” que, no desfile, figuraram em profusão.

Em uma temporada em que as cores tornaram-se pauta (azul Burberry, verde Ferragamo…), o novo tom de vermelho que Sabato apresentou, já apelidado de rosso Gucci, conquistou a cena internacional. Em shorts curtos de alfaiataria (hit da temporada) e microtops brilhantes, a visão do designer estreante foi de encontro à obsessão com o minimalismo nos anos 1990.

Foto: Gaspar Ruiz

O corpo aparece sem vergonha ou tabu, dando fim à androginia azedada que Michele instigou e se aproximando da era de sensualidade de Tom Ford na casa. A referência ao  norte-americano foi tamanha que uma camiseta regata branca bordada de cristais foi reproduzida diretamente da coleção de verão 1999 da Gucci, na qual a peça foi desfilada pela brasileira Vanessa Greca.

Versões das clássicas bolsas Jackie e Bamboo, além de loafers elevados em plataformas, também entraram na passarela como aposta de De Sarno, que mostrou sensibilidade comercial em visuais e acessórios prontos para levar luxo ao dia a dia. Tudo ao lado de padronagens monogramadas e bordadas inspiradas em clucthes dos anos 1950 – recuperando a essência da casa italiana para um novo momento fresco, quieto e sem fantasias.

Pierpaolo Piccioli, de quem Sabato foi braço-direito nos 14 anos que passou na Valentino, estava lá para prestigiar o amigo, ao lado de outras celebridades incontáveis que se perdiam na sala avermelhada. De Sarno escolheu “Ancora” como título para seu desfile de estreia. Em italiano, a palavra quer dizer “de novo” e, muito apropriadamente, o mundo já está ansioso para vê -lo em ação mais uma vez.