Foto: Getty Images

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Por Luigi Torre

Primeiro, aos fatos: numa temporada colorida, romântica e otimista, Miuccia Prada sai na contramão e apresenta uma verão sóbrio, carregado de tons neutros e focado numa alfaiataria de linhas retas e silhuetas quase quadradas. O desfile abre com um terno de saia de couro clara, caindo algo solta abaixo dos joelhos, e jaqueta algo esportiva. Em seguida, mais ternos: com listras estampadas ou em patchwork de couro, em tweed com padronagens dissonantes, com saia, com calça, com bermuda, com casacos longos, com casacos curtos, tecidos leves e outros pesados, decorados ou nos seus moldes mais convencionais. A verdade, convenção é tudo que Miuccia Prada quis evitar nesta coleção. Nada era exatamente o que parecia e tudo estava um pouco fora do lugar – a modelagem, a (des)construção, a proporção.

Havia também vestidos de cintura desabada, sob regatas de tricô pesado, numa sobreposição que fazia com que vestidos bastante elegantes se tornassem, propositadamente, grosseiros. Estes mesmo vestidos também evocavam ecos de tempos passados. No caso, os anos 1920. Década que se soma aqui a atual obsessão 60’s de Miuccia, já acumulada desde o inverno passado, e trabalhada à moda maximalista do momento. Vide os acessórios, como as sapatilhas de bico fino com esferas metálicas, os brincos em forma de globo e a nova versão da bolsa dentro de outra bolsa da coleção passada.

Tudo perfeitamente alinhado às vontades mais latentes da temporada, mas se tratando de Miuccia Prada é inevitável não ir além. Começando pelo fator parece mas não é. Ilusão ou impressões de uma realidade estão se tornando tema recorrente na temporada. Alessandro Michele, na Gucci, falou disso com seus trompe l’oeils e, agora, Signora Prada faz o mesmo com suas camadas de transparências. Eram saias e até ternos completos em tecidos transparentes superfinos, que às vezes pareciam flutuar do corpo, prestes a desaparecem. Tais tipos de peças também são a mais nova obsessão fashion (e de improvável aplicação além das passarelas), mas aqui ganham todo um novo significado. Falam da ideia de uma roupa. Falam o que como achamos que elas devem ser. Ou da memória que temos delas, de como eram num tempo que já se foi. E enquanto tudo isso também já apareceu em outras coleções, aqui aparece de cara novo. Como lembranças já quase esquecidas, noções nebulosas e concepções incertas, tudo sobreposto em camadas de memórias. Daí as referências de décadas passadas, daí os elementos deslocados, as desconstruções.