Oskar Metsavaht em seu ateliê da Osklen – Foto: Divulgação

Falar com Oskar Metsavaht é quase como marcar uma consulta. O sentimento, muito provavelmente, é um resquício de seu próprio início como médico, antes se tornar o artista, fotógrafo, “estilista” (entre aspas, porque prefere evitar o termo), empresário e ativista ambiental que fundou, em 1988, uma das maiores marcas de moda brasileira, a Osklen. “Oskar vai atrasar quinze minutinhos”, fico sabendo pouco antes da entrevista. Teria me sentido na sala de espera de um consultório se o personagem da vez não estivesse do outro da tela, no Rio de Janeiro. Gaúcho de berço, diz que escolheu se tornar carioca há 40 anos – e faz bem o papel. É doutor em carioquismo, modismo e, pioneiro que é, em ativismo também. Da conversa, não planejo sair com receita ou atestado – meu único sintoma é a curiosidade!

Guilherme de Beauharnais – Que nome mais complicado você tem! (risos)

Oskar Metsavaht – Sim! (risos) Meu avô se chamava Oskar Metsavaht antes de mim. Ele e minha avó vieram da Estônia na década de 1920. Em estoniano e finlandês, o sobrenome significa “guardião da floresta”. Isso moldou boa parte da minha relação com natureza.

GDB – Não tenho dúvida. É praticamente o alfabeto completo em um nome só!

OM – E ainda tem o italiano, da minha mãe. Sou Oskar Fossati Metsavaht. Mas confesso que nunca gostei do meu nome.

GDB – Por quê?

OM – Acho a sonoridade péssima. Só é bom no sotaque carioca: ‘Oxxkarrr’. (risos) A sorte é que tem um ‘k’ no meio, que dá estética para a grafia.

GDB – Se não se chamasse Oskar, que outro nome gostaria de ter?

OM – Nunca me perguntaram isso! Não faço ideia… Vou ficar te devendo essa resposta.

GDB – Pode compensar com a próxima: você é artista, fotógrafo, estilista, ambientalista… a lista é longa. Ah, e médico também! Você se define como algo ou prefere fugir de caixinhas?

OM – É difícil ficar em uma caixa só, mas não sou o tipo de pessoa que tem a pretensão de ser tudo e não é nada. Sou uma pessoa curiosa, esteta, gosto de criar conceitos, ressignificar iconografias…

GDB – Hum.

OM – Não gosto muito que me chamem de estilista. No Brasil, estilista é quem faz roupa. Isso precisa ser redefinido. Para mim, estilista é quem cria um estilo. Eu criei um estilo.

GDB – Por que criar? Não teria sido mais fácil seguir a tendência e roubar de outro? (risos)

OM – Sim, a moda brasileira está cheia de cópias. Isso me incomoda muito.

GDB – Quem são os copiadores e os copiados?

OM – Não posso dizer, imagina! (risos)

GDB – Está bem, não vamos nos comprometer. (risos) Você se tornou ambientalista ainda no começo da Osklen, não? Eram os anos 1990…

OM – Era um papo muito careta na época… os ativistas eram os “eco-chatos”.

GDB – Você é um deles?

OM – Tenho medo de ser. Mas a moda é uma protagonista de comportamento e sociedade, tal como a arte, o cinema, a dança, o teatro, a literatura… tem uma potência enorme para comunicar novas visões!

GDB – Recentemente, o Alexandre Herchcovitch disse em entrevista que basta o criador ser brasileiro para que a moda seja brasileira. Acredita nisso?

OM – Hum… Eu concordo, mas também acho que é preciso ter talento, aptidão, trabalho e suor. Ter o espírito ou a experiência de artista, ou mesmo compreender a arte, é fundamental para um criador de moda, acredito. A moda é uma expressão criativa e precisa ser autoral.

GDB – Os desfiles de moda são arte ou negócio?

OM – Para mim, desfiles são instalações criativas. Sempre foram. Não é algo comercial. Torna-se marketing porque precisa, mas acho que sempre devem ser um show para quem assiste.

GDB – Você vê isso na moda brasileira hoje?

OM – A moda brasileira está agitada. Uma marca surge logo após a outra e muitas fazem de tudo para estarem expostas. A cópia surge aí. Enxergo como uma falta de maturidade. Ser autoral não é um capricho, é um prazer visceral. Um luxo.

GDB – O que é luxo para você?

OM – Luxo, para mim, vem de lux, luz. É a luz da criação. É quando você dedica seu tempo, talento e pesquisa para fazer algo pelo outro. Por isso, acho que o Brasil não tem que crescer no consumo de moda, mas na cultura de moda.

GDB – E na sustentabilidade?

OM – Ninguém compra nada só porque é sustentável. O produto precisa significar alguma coisa, ser desejável.

GDB – Anos atrás, você comentou que a polarização política na sociedade atrapalhava discussões sobre ambientalismo.

OM – A sociedade está mais consciente sobre o que precisa ser feito, só não sabe ainda como.

GDB – Qual você acha que é o problema?

OM – No Brasil, temos o Ministério do Desenvolvimento Econômico e o Ministério do Meio Ambiente. Para mim, os dois são antiquados. O que falta para nós é um Ministério do Desenvolvimento Sustentável, que nos coloque no século 21 e nos transforme em uma potência de economia verde.

GDB – Nunca pensou em entrar para a política?

OM – Não! (risos) Mas trabalhar com projetos de Estado, sim.

GDB – Você ainda é o brasileiro “romântico e otimista” como se descreveu?

OM – É difícil… tenho meus altos e baixos. (risos) Sou menos entusiasmado do que eu era nos anos 1990 e 2000, confesso.

GDB – E você acredita no fim do mundo?

OM – Não! (risos)