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Jonathan Anderson não tem pressa. Enquanto boa parte da indústria gira ao redor do impacto instantâneo, da coleção viral, do desejo que se mede em curtidas, ele prefere o tempo da construção. E talvez seja justamente essa recusa em acelerar que tenha feito dele um dos nomes mais respeitados da moda contemporânea. Agora, essa trajetória que começou nos bastidores do teatro e passou por sua própria marca e pela transformação da Loewe ganha um novo fôlego: Anderson acaba de ser anunciado como diretor criativo da Dior, com total responsabilidade sobre as coleções masculinas, femininas e de alta-costura.
NASCE UMA ESTRELA
Nascido na Irlanda do Norte em 1984, Jonathan cresceu entre o universo do rugby, paixão do pai, e o interesse precoce pelas artes performáticas, que o levou a estudar atuação em Washington antes de migrar para o mundo do figurino. Foi essa experiência no teatro que aguçou seu olhar para o corpo e para a narrativa visual das roupas. Quando se deu conta de que queria criar moda em vez de vesti-la para o palco, mudou-se para Londres e ingressou no London College of Fashion. Mas não esperou muito para agir.
PORTFÓLIO
Em 2008, lançou sua própria marca, a JW Anderson, com uma coleção masculina que já trazia algumas das questões que marcariam seu trabalho: o cruzamento entre masculino e feminino, a provocação como linguagem estética, o interesse por formas inesperadas e materiais com presença têxtil intensa. Foi a partir daí que passou a ganhar notoriedade no circuito europeu, com desfiles que, ao mesmo tempo, desafiavam e seduziam o olhar da crítica e do público.
O reconhecimento não demorou. Em 2013, foi nomeado diretor criativo da Loewe, tradicional casa espanhola então em processo de reestruturação sob o guarda-chuva da LVMH. Lá, Anderson empreendeu um movimento raro: transformou a Loewe em uma marca desejada globalmente sem abrir mão da densidade criativa. Construiu uma identidade visual forte, baseada na valorização do artesanal, no uso inventivo de couro e na costura entre moda, arte contemporânea e cultura material. Mais do que roupas, suas coleções criaram universos repletos de objetos, referências e gestos visuais que transcendem a lógica do produto.
ASSINATURA CRIATIVA
Nos últimos anos, sua assinatura passou a ser associada à habilidade de contar histórias por meio de detalhes. Vestidos de tapeçaria, calças que se desdobram em esculturas, blusas que escondem camadas como se fossem quebra-cabeças. Mas também pela recusa em se acomodar a um estilo fixo. “Gosto da ideia de que a moda precisa desafiar as expectativas”, disse certa vez. Anderson é conhecido por essa inquietação: muda de rota, propõe silhuetas que desconstroem o corpo clássico da moda europeia e traz uma leve ironia para o peso simbólico das roupas de luxo.
LE NOUVEAU MONSIEUR DIOR
Na Dior, o desafio é outro. A maison carrega consigo um vocabulário bem definido (pense no New Look, a feminilidade idealizada, a herança de alta-costura que moldou o pós-guerra). Anderson não só será o primeiro estilista da história recente da marca a comandar ao mesmo tempo as linhas masculina, feminina e de alta-costura, como também será o primeiro a levar sua visão estética, até então mais associada à experimentação e ao subversivo, para dentro de uma das casas mais tradicionais do luxo francês.
Ainda que sua entrada comece pela moda masculina, ele assumirá gradualmente todos os segmentos criativos da grife. A decisão da LVMH de unificar a direção criativa sob seu nome indica uma aposta não apenas em sua versatilidade, mas também em sua capacidade de dar coesão à marca em um momento de transição.
É uma nomeação que ressoa além da moda. Em tempos de reformulações aceleradas e diretores criativos trocados como peças de um tabuleiro, ver Anderson assumir esse novo posto aponta para uma tentativa de retorno ao gesto autoral, à visão de longo prazo. Um designer que desafia a pressa e valoriza a complexidade parece, hoje, uma das escolhas mais contemporâneas possíveis.