
Cintia Zullino sempre foi meio arteira desde criança. Inquieta, está em uma fase de criatividade à flor da pele e com antenas conectadas com o mundo. Não à toa, a internet é a janela que possibilita fazer descobertas do outro lado do planeta. Foi assim que o que ela mais ama fazer virou business: garimpar antiguidades. Entre elas, quimonos orientais e obis confeccionados nos dois últimos séculos. Ela tem vários no closet.
A sacada foi transformar em negócio seu hábito de trazer as peças vintage para o dia a dia, incorporadas aos mais diversos looks urbanos. Formada em design gráfico na The Art Institute, em Fort Lauderdale, ela é dona de uma personalidade exuberante e chique, expressa tanto no visual quanto na decoração da casa.

A sintonia é tão estreita que os dois mais suntuosos entre os mais de 30 que vem selecionando, desde o ano passado, são perfeitos para dar um toque oriental à casa. “São uchikakes, casacos longos usados sobre quimonos de casamento”, explica.
Segundo ela, ambos foram confeccionados no final do século 19. “Por causa dos bordados, são extremamente pesados, o que torna seu uso bem mais difícil. Por isso, os considero obras de arte”, diz Cintia, que conseguiu um efeito deslumbrante na ambientação da sala de estar, dando a um deles status de escultura de parede.

Fazem parte, ainda, de seu acervo peças usadas em cerimônias mais simples, como a do chá, e versões leves, como as de verão, vindas do Japão, China e Malásia. “”O bacana é descontextualizar e incorporá-las ao visual próprio”, explica Cintia, que adora usar os seus sobre vestidos e outras roupas confortáveis. “Ficam lindos até mesmo com roupas esportivas, para ir e voltar da academia”, acrescenta.
Já os obis podem virar tops modernosos. Por isso, vale apostar na imaginação para criar laços e nós ou reproduzir amarrações orientais mais tradicionais. Encontrar novas maneiras de usar um quimono é movimento que está conquistando cada vez mais espaço entre jovens orientais desde o início do século 21, segundo artigo do museu londrino Victoria & Albert.

O visual acabou conquistando também ocidentais. De quebra, contribui para resgatar a importância da peça, inclusive no Japão. Por lá, o quimono vinha sofrendo processo de desvalorização cultural desde o final da Segunda Guerra Mundial, por ser visto como símbolo do passado feudal do país e de opressão das mulheres.
Fora do contexto habitual, os quimonos viraram peças fashionistas. Atentas a esse renascimento, várias marcas têm incluído modelos nos mais diversos materiais em suas coleções. “Mas uma peça vintage é especial, tanto pelo tecido e trabalho manual quanto pela sua história”, defende Cintia, que ganhou o primeiro quimono do pai quando ainda era criança e começou a desenvolver, na adolescência, o apreço por roupas confortáveis e impactantes.

E ela não está sozinha. Várias amigas compartilham do mesmo gosto. A joalheira Silvia Furmanovich, que tem no closet vários exemplares comprados em viagens ao exterior, conta que adora usá-los como vestido longo, bem próximo da maneira tradicional, e complementa o visual com acessórios modernos. Entre os seus preferidos estão os yukatas, como são conhecidas as versões mais leves, perfeitas para os dias quentes de verão.

“O que me atrai são a estética e o corte perfeito”, diz ela, que está dando toque oriental à nova coleção de joias, com lançamento previsto para abril. “São maravilhosos. Dão ar descolado e elegante”, festeja Marina Bueno, que elege as “jaquetinhas” haori suas preferidas. “São mais fáceis de usar. Vão bem com shorts, calças e saias”, enumera, acrescentando que reserva os longos para a noite ou, se o momento pedir, como saída resort, sobre o biquíni. “Eles costumam ‘causar'”, diverte-se.
Atriz por formação, para ela quimono tem a ver com liberdade e expressão pessoal. “Remetem a uma sensação de fantasia, pois trazem um quê de mistério, elegância e sedução.”

Outra entusiasta é a artista Cristina Sá, que cedeu seu ateliê, Cré Sá, para as fotos da Bazaar. Com o garimpo que está longe de acabar e o suporte das amigas, Cintia acaba de inaugurar o projeto A + Arteira, que tem como canal de vendas principalmente o Instagram (@amaisarteira) e é desdobramento do seu outro perfil, @artanythingperiod, pelo qual comercializa objetos de arte, de design, joias e outras relíquias.
A meta é, em breve, apresentar criações próprias utilizando tecidos orientais vintage e o resultado de várias collabs. Já engatilhadas estão as parcerias com as empresárias Sandra Valente (leques europeus e orientais datados de 1780 a 1960) e Romina Habermann (quimonos assimétricos contemporâneos). Já com a estilista Fernanda de Goeye, a ideia é transformar obis em várias outras peças. Coisa de gente arteira.
Veja o making of do shooting em vídeo:
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