Grace Kelly, atriz de Hollywood e princesa de Mônaco, foi uma das celebridades internacionais que aderiu à tendência de Trinity, da Cartier (Foto: Getty Images, com intervenção da Harper’s Bazaar Brasil)

Gira, mundo, gira! Entorpecido pelo ópio, Jean Cocteau rodopiava em sonhos e visões com os anéis de Saturno. Era o crepúsculo dos loucos anos 1920 e o poeta queria o planeta distante para si, não importava a distância, nem os anos-luz. E se os homens ainda apenas sonhavam em ir para a Lua, como Jules Verne romantizou na literatura e Georges Méliès no cinema, Cocteau queria ir além, para o sexto astro do sistema solar.

A viagem, claro, nunca aconteceu. O máximo que conseguiu foi chegar até o número 13 da rue de la Paix, o templo da Cartier no coração de Paris, onde dividiu seu fascínio cosmológico com Louis Cartier. Ambicioso, queria encolher o gigante universal para que coubesse em seu dedo mindinho – uma ideia que deu frutos em 1924, com o protótipo de um anel triplo, feito em platina, ouro amarelo e rosa. E o que começou como uma “bad trip” é hoje, exatos 100 anos depois, parte da coleção Trinity, um dos ícones cults da maison.

O poeta e artista surrealista francês Jean Cocteau ajudou Louis Cartier a idealizar Trinity, depois de sonhos com os anéis de Saturno (Foto: Getty Images, com intervenção da Harper’s Bazaar Brasil)

A joia, aliás, sequer demorou para virar um sucesso: era diferente de tudo que a Cartier havia criado até então. Cocteau queria dividir “o planeta” com o mundo e decidiu que o primeiro a usar o acessório seria seu amante, o escritor Raymond Radiguet. Traído pelos astros, o jovem faleceu em 1923, aos 20 anos, poucos meses antes de Louis Cartier finalizar o anel-protótipo. Do círculo íntimo de Cocteau (e outra de suas paixões), a princesa Natalia Pavlovna Paley foi a única a ganhar o anel triplo, então batizado de ‘bague trois ors’ e ‘bague trois anneuax’, no início da década de 1930.

Em 2024, o anel Trinity da Cartier completa 100 anos (Foto: Divulgação/Cartier)

Antes disso, porém, a Cartier já experimentava com a criação e lançou, em 1925, um bracelete no mesmo estilo. A peça conquistou Elsie de Wolfe, famosa decoradora de interiores nos Estados Unidos, que debutou a peça em grande estilo, abrindo precedentes para outros cisnes da sociedade aderirem à tendência. Grace Kelly, nos anos 1950, se tornou uma das “Trinity devotees”, mas o estilo também causou frisson entre os homens mais avant-garde, como o Duque de Windsor e o ator Gary Cooper.

Em 1967, o design ganharia sua segunda alteração ousada: uma versão com sete aros, no lugar de três. Ainda assim, ele voltaria a ser triplo seis anos depois, em 1973, quando a maison lançou a coleção Les Must de Cartier, com objetos criados para o dia a dia (como canetas e isqueiros) decorados pelo motivo triplo de Trinity.

A partir da década de 1990, as proporções aumentaram, primeiro em um anel largo e, depois, em 2004, no bracelete XL. No mesmo ano, a joalheria também introduziu a primeira versão de um anel Trinity coberto de diamantes brancos, amarelos e rosas. Ainda mais exploratória, uma edição em “preto e branco”, lançada em 2011, trouxe a cerâmica preta como material inédito.

Entre suas joias, a Princesa Diana ficou conhecida por usar um anel Trinity, da Cartier (Foto: Getty Images)

De lá para cá, Trinity segue orbitando o imaginário fashionista. Para o centenário da joia, a diretora de design de joalheria e relógios da Cartier, Marie-Laure Cérède, revisitou o design em novas edições luxuosas, lançadas entre janeiro, fevereiro e março de 2024. Em comunicado divulgado à imprensa, a designer explica que “a ideia de redesenhar a Trinity da Cartier parecia uma piada, um fato impossível, mas o desafio nos intrigou”. Como resultado, surge uma reedição do icônico bracelete XL, da era Y2K, um novo anel XL e outro, coberto por diamantes, em um jogo de vela e revela das pedras preciosas.

De todas as novidades, porém, as mais inovadoras parecem ser um trio de anéis em superelipses – quadrados com vértices arredondados –, que Cérède descreve como “um trabalho de enorme precisão”, e uma versão modular do design, cujos aros podem ser movidos “como em um quebra-cabeça Kumiki”. Aqui, a joia “fechada” pode ser usada como um anel único, enquanto “aberta” surge como três que, reunidos, revelam diamantes.

Kylie Jenner apareceu nas redes sociais com um anel Trinity da Cartier depois de iniciar seu romance como o ator Timothée Chalamet (Foto: Reprodução/Instagram)

Será que três é o número da sorte em 2024? Para a Cartier, definitivamente. E a Harper’s Bazaar Brasil deseja feliz 100 anos para Trinity!