
Fotos: Gabi Queiro
Amir Slama apresentou um dos desfiles mais simbólicos desta edição do SPFW N60. O estilista, que há 35 anos redefiniu a moda praia brasileira, usou a passarela como manifesto — e como semente — para o movimento Fashion for Forests, criado ao lado da ativista indígena Txai Suruí e da empresária Catarina Bellino, que busca ampliar vozes indígenas e promover o reflorestamento da Amazônia.
Para começar, Slama revisitou sua própria trajetória — entre sua marca homônima e os tempos de Rosa Chá — com um novo olhar. Foi uma espécie de arqueologia afetiva traduzida em tecidos.
Uma sequência em preto e branco, marcada por referências à lingeries: rendas, armações de arame, laçarotes, franzidos e corsets. Depois, os tons terrosos tomaram conta da passarela, com maiôs em marrons e beges, como o modelo de escamas de tecido e o cinto de moedas.

Fotos: Gabi Queiro

Fotos: Gabi Queiro
Em seguida, o clima mudou e, ao som de brega com batidas de funk, a coleção ganhou vida em cores primárias que vibraram em estampas inspiradas no trabalho do artista Glauco Rodrigues, que retratou um Brasil pop e moderno nos anos 1970. Outras peças com mensagens como “Yes! Nós temos banana!” e “Terras brasilis”, ecoaram humor e orgulho nacional.
O estilista apresentou também a face mais simbólica da coleção: as “tree-shirts”, camisetas que representam o primeiro fruto do projeto Fashion for Forests. Cada peça vendida resultará no plantio de uma árvore no território Paiter Suruí, em Rondônia, através do programa Pamine Reforestation, que já ultrapassou a marca de um milhão de mudas.
A camiseta inaugural, assinada pela artista Claudia Liz, traduz em traços orgânicos a ideia de que cuidar das árvores é cuidar da própria respiração. O desenho, simples e simbólico, ecoa o espírito do desfile: transformar moda em gesto. “Juntos, vimos que poderíamos usar a moda como plataforma de comunicação para divulgar uma mensagem fundamental para todos os seres vivos”, contou Amir nos bastidores.
O movimento também envolveu alunos da Belas Artes, que mergulharam em pesquisas sobre a Amazônia para desenvolver conceitos e estampas inspiradas na floresta — uma colaboração que aponta para o futuro da moda com propósito.
Entre o sexy, o esportivo e o rebuscado, Slama costurou linguagens que dialogam com seu DNA sem cair em nostalgia.