Normando, SPFW N58 (Foto: Marcelo Soubhia/@agfotosite)

“Filma, filma!”, pedi para a repórter de BAZAAR, Baárbara Martinez, assim que Maria Stella Splendore entrou na passarela da NORMANDO, com um vestido azul, se curvando em um namastê. Sim, eu sei que todos ali estavam mais interessados nos gêmeos Hilbert (brilharam muito, de fato), mas a outra surpresa me pegou de jeito. It-girl nos anos 1960 e 1970, Maria Stella foi de vedete das passarelas (“manequim” disputada) para ícone e quase primeira-dama da moda brasileira quando, em 1965, se casou com o estilista-celebridade Dener. O resto é história – e rolou até um romance com Roberto Carlos depois –, mas desde 2004, a modelo vive em uma comunidade hare krishna em Pindamonhangaba. Estreias divinas, entretanto, pedem presenças divinas; e a viagem de 145 quilômetros até São Paulo valeu a pena.

Marco Normando estava emocionado quando a apresentação terminou – e com razão. Essa foi sua aguarda estreia no São Paulo Fashion Week e veio carregada daquele frescor que muito se procura mas pouco se acha na moda brasileira hoje em dia. Bastante por isso, ele e seu sócio, Emídio Contente, se tornaram as nossas “estrelas do Norte”. Na passarela, fica fácil entender o apelido. Peixes amazônicos, de fauna e alimento, viraram estampas e acessórios, assim como as casas de palafita, erguidas sobre os rios, ganharam homenagem nas padronagens de madeira em vestidos “barbatanados” de lã e seda. “É um jogo de estruturas e levezas”, contou Marco nos bastidores, também mostrando as jutas de Castanhal, no Pará, que transformou em bermudas e calças. Muito usadas em sacas de café, mais pareciam jeans aos olhos desatentos – “são uma espécie de denim ecológico”.

Cuias de tacacá, típicas de Belém, viraram busto de sobretudo e um top de marchetaria, no formato do mapa nacional (cada estado de uma madeira diferente), arrancou suspiros da plateia. Minutos antes do desfile, a peça ainda não tinha chegado, mas seu début deixou até a influenciadora Malu Borges de queixo caído.

De Rondônia, veio o látex das jaquetas (“manchadas” em degradê, consequência da umidade na floresta) e, da literatura paraense na virada do século, a grande inspiração da temporada: os Vândalos do Apocalipse, grupo de intelectuais periféricos e pioneiros apagados do movimento modernista brasileiro. “Para nós, é uma fuga do clichê de exotismo que o Norte do Brasil carrega historicamente. Aqui, as referências são mais densas e complexas e, de certa forma, essa coleção é a nossa reapresentação para o mundo”.