No sexto dia da NYFW, a diversidade de vozes criativas ganhou protagonismo em uma programação que transitou do maximalismo exuberante ao minimalismo conceitual. De LaQuan Smith, que manteve sua estética ousada e noturna em looks que equilibram sensualidade e força, ao rigor geométrico de Bevza, inspirada pelo modernismo de Kazimir Malevich, as passarelas refletiram a pluralidade de perspectivas que hoje definem Nova York.
A estreia de Jiané Li com a Lii mostrou como o minimalismo pode ser surpreendente quando tratado com frescor e inventividade, enquanto a PatBO reafirmou a potência do DNA brasileiro em uma celebração de cores, bordados e movimento. Entre propostas tão distintas, a sensação é de que a semana de moda se fortalece justamente na coexistência de extremos — sofisticados, artesanais, urbanos ou festivos — que dialogam com públicos diferentes, mas igualmente sedentos por moda com personalidade.
LaQuan Smith
No sexto dia de NYFW, LaQuan Smith reafirmou seu território no universo da sensualidade noturna, mas trouxe novas camadas de sofisticação à sua narrativa. Inspirado em uma figura feminina de poder, perigosa e sedutora, o estilista apresentou uma coleção que equilibra força e vulnerabilidade em proporções exatas.
A peça inaugural – um vestido colunar bordado com contas de madeira e turquesa – deu o tom de um trabalho artesanal minucioso, expandido em minissaias, tops e vestidos de decote profundo. Esse rigor foi tensionado por tecidos etéreos, como chiffons e organzas, que surgiram ao lado de couro, croco e camurça sintética. A cartela incluiu desde o rosa chiclete até o preto profundo, com destaque para os conjuntos em couro entrelaçado e a releitura da camisa oversized em organza com brilho. Pela primeira vez, o guarda-roupa ganhou pitadas de alfaiataria pragmática, em calças cigarrete e blazers de risca de giz — mas sem abrir mão do DNA ousado que consagrou a marca.
Bevza
Com inspiração na obra do artista ucraniano Kazimir Malevich, Svetlana Bevza apresentou uma coleção de linhas gráficas e espírito meditativo, marcada por uma paleta enxuta de preto e branco pontuada por tons de vermelho cenoura, azul marinho e amarelo amanteigado. As silhuetas exploraram a pureza geométrica, com peças como o top/saia quadrado com zíper — que pode ser usado de formas distintas —, vestidos de jersey fluidos de caimento controlado e camisas estruturadas combinadas a saias volumosas em formato cúbico.
A conexão com a Ucrânia permeou todo o desfile, desde a referência à paisagem natal até o uso do trigo, símbolo recorrente em sua joalheria, agora transformado em colar branco ou até em máscara facial. Vivendo em Londres desde 2023 por causa da guerra, Bevza reforçou a moda como um ato de resistência e pertencimento, celebrando a abertura iminente de sua primeira loja em Kyiv como uma vitória de perseverança e criação em meio à adversidade.
Lii
De volta a Nova York após duas temporadas em Paris, Jiané Li estreou sua primeira passarela em uma galeria em Tribeca, mantendo o minimalismo inventivo que já marca sua etiqueta. As peças brincaram com a desconstrução de formas simples, como uma saia lápis azul-marinho que revelava, na parte de trás, um quadrado verde esmeralda em versão mini, ou uma saia que se dobrava sobre si mesma criando um efeito de gola invertida. A coleção partiu da ideia da memória ativada por sons, inspiração vinda do filme Memoria, de Apichatpong Weerasethakul, e levou essa reflexão para a dimensão tátil e sonora dos tecidos em movimento.
Entre os destaques, um vestido tubinho de nylon aqua transparente usado com leggings rosas que flutuavam em frente às pernas da modelo, como se suspensas na água. Houve ainda a colaboração com a Nike, que rendeu seis looks — incluindo um parka longo feito do mesmo material dos bags de golfe da marca, adaptado com aberturas inesperadas, além de uma jaqueta cropped vermelha com costuras sutis e modelagem arredondada nas costas. Combinando esportividade, conceito e precisão técnica, Li mostrou como seu vocabulário já surge surpreendentemente maduro.
PatBo
Com a passarela transformada em um jardim de flores exuberantes, a PatBO apresentou sua coleção Verão 2026 sob o tema Latin Soul, reafirmando o espírito brasileiro em cores vibrantes, texturas intensas e muito brilho. A proposta transitou entre o romântico, o sensual e o divertido, com babados, crochê, petit poá e o retorno do balonê, todos trabalhados em proporções ousadas e acabamento meticuloso.
O destaque ficou para os bordados: mais do que adornos, eles assumiram protagonismo em biquínis, vestidos e saias inteiramente cobertos por aplicações que remetiam a flores e penas de pássaros, com pétalas feitas da combinação de tecidos e cristais em diferentes escalas. O desfile também marcou a estreia da linha de calçados da marca, com plataformas, plumas e saltos metálicos acompanhando looks e convidadas como Sofi Tukker e Ingrid Guimarães. Uma celebração do excesso tropical traduzida em sofisticação artesanal.





