
Alix veste conjunto Alix Rio, brincos e pulseira Vera Duvivier e slippers de seu acervo pessoal – Foto: Tinko Czetwertynski
A estilista Alix Duvernoy sempre se viu como uma outsider. Nasceu no Rio de Janeiro, mudou-se com a família, quando tinha apenas 2 anos, para São Paulo. Voltou para a capital fluminense aos 15. E, na última década, morou entre Paris e Londres.
Acostumou-se a olhar o mundo com distanciamento e aprendeu a se adaptar. No meio disso tudo, teve o senso estético influenciado pela família. Ela é filha da joalheira Vera Duvivier e neta de Ruth Almeida Prado, uma das personagens mais memoráveis da Cidade Maravilhosa, de quem herdou o mood extravagante, o traquejo de circular por qualquer ambiente e também a simplicidade.
Alix é zero afetada e cem por cento dona de si. Assim como a avó Ruth, Alix é famosa pelo visual exuberante que pode incluir, ainda, flores no cabelo e um bom batom vermelho. Musa, empresta seu nome para um escarpim preto e branco Charlotte Olympia e uma bolsa colorida da Waiwai.
Diz, porém, que está mais comedida desde a depressão que teve em 2016, quando ainda morava em Londres. “Passei a me questionar e o mundo à minha volta. Sou apaixonada pela beleza, mas perdi o tesão de me vestir e de sair. Isso influenciou minha decisão de voltar para o Brasil”, recorda.
Há um ano, Alix escolheu novamente viver no Rio, para estar mais perto da natureza e porque considera a cidade mais democrática – ao mesmo tempo em que pode tomar banho de mar ou cachoeira, circular por festas tanto na alta sociedade quanto na favela. “É de onde saem as coisas (culturais) mais legais. É linda a força do funk”, avalia.
Para entender mais desse contexto, leu “O Dono do Morro”, de Misha Glenny, e “O Sol na Cabeça”, de Giovani Martins, ambos sobre histórias reais passadas, respectivamente, na Rocinha e entre o Vidigal e Bangu. O gosto por livros e música vem especialmente do pai, Jorge Duvernoy.
Ainda em Londres, provou ayahuasca em um ritual com indígenas brasileiros. “Foi uma experiência única”, conta. Desde que voltou, já fez três imersões na floresta amazônica, na aldeia apiwtxa, dos ashaninka – a mesma que inspirou o estilista Oskar Metsavaht a criar a coleção verão 2016 da Osklen. “É um povo muito unido. Me emociona perceber como nos distanciamos do próximo”, conta Alix, acrescentando que se impressiona com a sabedoria de cura por meio das plantas. “Sofro com várias alergias e mais de uma vez saí de crises com o uso de folhas.”

Anel de ametista e lápislazúli desenhado por ela; colar de seu acervo pessoal; brincos comprados na loja do museu Mate, no Peru; figa herdada da avó; argola com dente de onça desenhada por ela; argolas Elsa Peretti para Tiffany & Co.; e pulseira de seu acervo pessoal – Foto: Tinko Czetwertynski
Segundo ela, morar no exterior propiciou valorizar aspectos próprios do País. “Temos coisas incríveis aqui, principalmente as pessoas. Apesar de sofrido, é um povo que está sempre feliz.” Esse universo rico em referências nacionais e internacionais – ela trabalhou no showroom da francesa Valery Demure e no Net-a-Porter – salta na segunda coleção para a marca que leva seu nome e que está à venda na multimarcas Pinga, em São Paulo.
Se na primeira, batizada de “Jungle Funk”, a cartela de cores era intensa e purista, há, agora, um sentimento de calmaria no ar. Inspirada em três viagens pela Índia, Alix transitou por cores suaves, mas manteve o recurso de usá-las blocadas.
Assinada pela designer Lucia Koranyi, uma das estampas é inspirada em Hanuman, o deus-macaco do hinduísmo, e há delicados bordados com miçangas multicoloridas. “A maioria das peças leva nomes de pessoas próximas. Minha avó é a única que aparece em ambas as coleções, porque é uma fonte de inspiração, não apenas de estilo, mas intelectualmente”, afirma a estilista, formada em Design de Moda pelo Instituto Marangoni de Paris. Visão particular de quem aprendeu a enxergar o mundo com distanciamento.
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