Por Cassio Prates e Eve Barboza, do Gid Estudio
A pergunta que estampa o título desta coluna parece sido feita por todos diante da estreia de Jack McCollough e Lazaro Hernandez na Loewe, que aconteceu nesta sexta-feira (03.10) em Paris – depois da partida de Jonathan Anderson para Dior.
Contextualizando: essa foi a pergunta que Anderson fez na última quarta-feira (01.10) – “Você ousaria entrar na Dior” – para abrir seu desfile, com um vídeo produzido pelo cineasta e documentarista Adam Curtis. Um filme de terror: a tela em formato de pirâmide passava pela história e estilistas da casa, com uma homenagem apavorante, cheia de cortes e efeitos, que reconhecia o passado, mas não deixava de sugerir uma ruptura. E esse foi realmente o leitmotiv do desfile.
O filme era assustar; as roupas, não! Eram inquestionavelmente mais jovens e propunham o ponto de vista do que pode vir a ser uma nova Dior. Ou seja, Anderson colocou um elefante enorme na sala.
Dias depois, McCollough e Hernandez chegam com sua visão na Loewe. Arte, artesanato, peças bonitas… tudo estava lá, além de uma energia evidente, impossível de negar.
As imagens que já haviam sido apresentadas no Instagram da marca traziam cores primárias e natureza como foco. Isso se desdobra na entrada do desfile, com uma obra de Ellsworth Kelly: um painel geométrico amarelo e vermelho. Já na passarela, as jaquetas seguem essa forma selada, quentes e brilhantes, com vestidos drapeados, jeans e camisas torcidas. Havia uma bolsa que lembrava um chapéu de praia virado, detalhe interessante, enquanto as demais dão continuidade ao que a marca vinha fazendo. Fica a cargo de itens mais esportivos de adicionar a cara da dupla ex-Proenza Schouler à coleção.
O restante fica à sombra da presença de Anderson e sua inegável relevância nos últimos dez anos à frente da marca. A tarefa mais difícil da temporada, convenhamos, já que antes dele, ninguém ousava vestir ou desejar Loewe. Havia um “alô” ali, um colorido, um esboço do que pode vir a ser uma nova era da casa, mas o resultado permaneceu preso ao conceito de imagens e roupas bonitas – o que, hoje, não se sustenta em um mercado tão pressionado.