Agatha Moreira revive a carreira de modelo na Bazaar

A tesoura do desejo atingiu em cheio Agatha Cerqueira Pereira Moreira. A atriz, que acaba de completar 30 anos, resolveu aderir à mudança radical e raspou seus fios com máquina zero. Coragem e muita autoconfiança definem. “O barulho da maquininha me fez sentir que estava deixando para trás tudo o que eu não queria e não me cabia mais. Me despedindo de tantas personagens que passaram pela minha cabeça”, conta.

A ex-modelo carioca, que cresceu aos olhos do público ao ser aprovada em um teste de “Malhação”, em 2012 – e passou a figurar em um folhetim a cada ano -, diz que despir-se dos seus fios curtos e platinados foi o primeiro ato de escolha pessoal em tantos anos de carreira. “A decisão nunca foi minha desde os meus 13 anos. Nunca fiz nada por conta própria, porque quis.”

E para coroar a mudança, nada mais significativo do que este editorial potente, com twist fashionista e estilístico, criado a partir de frases de rua, que segue nestas páginas transbordando sororidade. “Estar nesta capa é a realização de um sonho. Venho das passarelas. Tenho essa paixão por moda e fotografia. Não desatrelar minha antiga profissão à minha atual é um prazer”, afirma Agatha Moreira em entrevista à Bazaar, emocionada, na manhã anterior à sua trigésima volta ao Sol.

O visual platinado de Agatha, que antecedeu o raspado, foi o escolhido para reviver Giovanna, cujo apelido é Kika, sua personagem na franquia “Verdades Secretas“, de Walcyr Carrasco na Rede Globo. Na trama, que retornou após seis anos, a personagem volta de Paris, depois de anos de uma carreira bem sucedida como supermodelo, na intenção máxima de culpar Angel (Camila Queiroz) pela morte de Alex (Rodrigo Lombardi), seu pai.

Para a atriz, foi um grande desafio “ressuscitar” a personagem dentro dela e, principalmente, imaginar todos os anos em que ela sofreu uma grande transformação, passando de adolescente aspirante à modelo a uma mulher adulta, com uma carreira de peso, ressentida e completamente magoada pela morte do pai. “Tive de trazer tudo de volta: imaginar o que ela passou para se tornar a mulher que ela é hoje. Imaginar e colocar para fora a falta de amor e de afeto e a busca pela atenção do pai – que, do nada, não estava mais ali”, conta. “A essência da Kika estava dentro de toda a construção que fiz convivendo com ela diariamente: gravando, ensaiando e decorando texto do Walcyr. Esse vínculo entre mim e ela ajudou muito. Foi um grande desafio”, completa.

Gravada durante o segundo ano pandêmico, os desafios foram muitos. “Tudo era uma luta: se concentrar, maquiador com face shield, sem olhar na cara da atriz direito, figurinista tendo que higienizar peça por peça todos os dias. Fazer com que isso não te tire o foco central é um desafio mental. Uma briga psicológica mesmo. Fico emocionada sempre que lembro, porque são pessoas que amam o que fazem, assim como eu”, conta, com os olhos marejados ao relatar todo esse processo.

Já um desafio totalmente pessoal foi a decisão da atriz de secar alguns quilinhos para dar vida a uma supermodelo internacional, vítima das exigências estéticas que o mundo da moda ainda impõe: “Estava supersatisfeita com o corpo que tinha, mas acho que não cabia para a personagem. Então, entrei em uma dieta rígida: tive que malhar bastante, fechar a boca, comer salada e proteína. Entendi que precisava chegar neste padrão da moda”. Valeu o esforço, ela reconhece. “Foi o primeiro trabalho do qual não saí insegura. Eu me dediquei de corpo e alma, vivi essa personagem do início ao fim.”

Criada na Zona Norte do Rio de Janeiro – filha de mãe motorista e pai comerciante -, Agatha sempre sonhou em se tornar uma mulher que não dependesse de ninguém, e que pudesse ajudar sua família. “Meu maior sonho não era ser modelo. Era ser independente.” Ao completar três décadas, se consolidou como uma mulher expressiva, de opiniões fortes e, agora, dona de suas escolhas e de sua história. Raspar os cabelos é um ato de protesto. E de extrema liberdade.

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