Autodeclarada “feminista climática”, a escritora Giovana Madalosso está às vésperas de lançar o seu terceiro romance (e quarto livro), com protagonistas mulheres. Em sua estreia na seara literária, ela quase não emplacou os contos de maternidade reunidos no exemplar “A Teta Racional” – e isso ocorreu por conta da escolha do título. “As editoras pediam que trocasse a palavra ‘teta’, pois a consideravam chula. Elas preferiam ‘seios’, pois isso torna o corpo da mulher mais desejável.”
Entre os inúmeros projetos atuais – Giovana está em processo de adaptação de um texto para o cinema -, ela também é colaboradora de uma plataforma de mudanças climáticas chamada Fervura. “Por incrível que pareça, essa luta tem muito a ver com o feminismo. Para tratar de um assunto tão indigesto é necessário abordá-lo com certa poesia e delicadeza. Além disso, é importante ressaltar que as mudanças climáticas vão impactar muito mais as populações vulneráveis, como as mulheres e os indígenas – e é por isso que cruzo as duas pautas, feminismo e crise do clima, em uma mesma conversa”, diz.
Sobre a questão do feminismo, Giovana pontua um equívoco recorrente que associa a sensualidade intrínseca dos trópicos à liberdade sexual. “O machismo no Brasil é uma fera subjugada. Acredito que o machismo enrustido seja muito mais perigoso do que o machismo explícito, já que ele se esconde sob o manto da falsa cordialidade. No exterior, acham que a mulher brasileira é livre – e isso é um grande engano. Como acontece em toda a cultura latina, a mulher está preocupada em atender o prazer do homem. Liberdade é poder decidir se você terá ou não um filho.”
Ciente de que para cessar a violência é fundamental aderir à política de tolerância zero, a escritora conta que ela mesma foi vítima de agressão doméstica – e como se calou da primeira vez, viveu o pesadelo novamente. “Sei que é um processo desgastante, mas denunciar é a nossa maior arma. Expor o agressor é uma forma de proteção. Porém, a luta mais urgente é a emancipação financeira da mulher, pois isso permite que ela não se sujeite a ficar em um ambiente dominador e opressor. O pensamento feminista é uma luz que possibilita que a mulher se enxergue por inteiro. O feminismo explica quem nós somos e porque somos desta maneira. Uma vez que você se enxerga, você nunca mais será a mesma”, sentencia a escritora.