No fim do ano passado, a artista plástica Elisa Stecca foi contemplada com um ProAC Expresso Lei Aldir Blanc, nos âmbitos federal e estadual, que é uma premiação de trajetória. Ela escolheu, então, fazer uma publicação com seu trabalho recente, a partir de 2017, que são trabalhos feitos na pandemias ou fora do Brasil e que não tinham sido vistos por aqui ainda, a ideia era fazer uma itinerância de lançamentos do livro com exposições, como se fossem experiências do livro, para que as pessoas pudessem ver ao vivo o que estava vendo nas páginas.
“A gente começou em São Paulo, na Biblioteca Mário de Andrade, que graças a Deus foi muito bem, tivemos muita visitação e cobertura”, diz.
Nesse meio tempo, ela fez no MACS (Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba), o lançamento do livro, mas com uma série de obras completamente nova, inédita. “Foi uma resposta a essa outra exposição, que foi muito limpa, muito clean, espiritualista. Lá [no MACS] foi uma exposição com muita cor, cerâmica, então foi uma resposta a essa, mas uma meio que complementava a outra.”
Nesta semana, Elisa se apresenta no Rio, na ArtRio, de 14 a 18 de setembro, onde lança o livro “Improvável” na galeria Mercedes Viegas, e para onde vai levar duas séries de trabalhos para ilustrar, não será uma exposição solo, ela vai estar no estande da galeria com outros artistas. Em outubro, ela leva essa exposição na íntegra para Belo Horizonte, para fazer o lançamento em terras mineiras.
“É um ano muito especial para mim. É um ano de olhar toda a produção, de análise, com aberturas de caminhos. É legal olhar para a sua trajetória e ficar feliz com ela. Eu estou muito satisfeita, o livro ficou maravilhoso”, conta.

Elisa Stecca lança seu novo livro “Improvável” na Galera Mercedes Viegas, durante a ArtRio – Foto: Fábio Correa
Elisa diz que não é uma retrospectiva, mas um recorte de sua produção recente. A curadora do livro pretende lançar um outro com retrospectiva de sua obra. “Mas eu tenho 30 anos de trabalho, ela quer fazer uma retrospectiva com toda a minha trajetória, como jornalismo de moda, joalheria, depois com o objetos e artes plásticas”, explica.

“Black is Beautiful”, 2020, frasco de vidro, nanquim, selenita, latão, obra de Elisa Stecca – Foto: DIvulgação
Para o Rio, Elisa está levando duas obras que falam da sua vivência de moda, de design, vivência com as peças, que são duas situações feitas para frascos. Uma delas é a série “Salar”, que são recipientes de vidro e pedra, que contêm sal, para falar das etnias brasileiras, onde destaca procedência e diferentes cores, que ela acha são uma questão urgente no Brasil, falar sobre a nossa mistura.
“Apareceu um viés do ‘nós contra eles’, que é do oposto do que vivíamos no Brasil, nós celebrávamos a mistura. E há outra série, também de frascos de vidro e pedra, e que contêm nanquim. Essa série foi desenvolvida na pandemia e trata também de um tema urgente que é o #BlackLivesMatter. Então, ao utilizar o vidro, o metal e a pedra eu quero apontar solução alquímica para esses dois cenários trágicos que a gente está vivendo. Porque eu acredito que a gente vive um momento politico na arte. Eu não me vejo numa posição de militância, de denúncia, eu gosto de pensar na arte e na beleza que a arte pode promover.”
Pandemia
Para Elisa, a pandemia foi extremamente bondosa, porque teve uma coisa que nunca tem: tempo. “Eu sou uma pessoa que corro muito. E muitos desses trabalhos que eu estou mostrando nesse livro e nessas exposições são trabalhos que eu pude fazer com a reflexão que o tempo da pandemia me proporcionou. Em termos comerciais, para o meu ateliê, foi muito legal. Como eu trabalho com esse principio alquímico, com harmonização, pedra, mercúrio, sal… Eu acho que era meio o que as pessoas queriam nessa época, estarem em um ambiente harmonizado e tal. E com o advento do Instagram, você na verdade tem uma loja para o mundo. Então foi muito bom, mas foi difícil porque não dá par a gente ficar indiferente à violência que a estamos vivendo em todos os âmbitos.”
Elisa avalia que vivemos um momento de muita violência, verbal, social, econômica, violência institucional… Então isso, para ela, é duro, mas procurou não ficar presa na dureza: ela propões uma solução poética para essa situação.
“Eu não acredito que a minha maneira de fazer política seja reafirmando as coisas das quais sou contra, mas propondo as coisas de que sou a favor. Eu acho que em um mundo em que a beleza, a estética e a ética já foram vistas como coisas fúteis e vazias, em um momento de grande dor e grande feiura do mundo, eles se tornam absolutamente necessários. Eu acho que essa é a contribuição que eu tenho que fazer como artista, propor um olhar para o belo, ou propor palavras belas, conceitos de beleza, gentileza, que eu acho que é o que o mundo está precisando.”
Para o ano que vem, Elisa quem focar e colocar seu trabalho no mundo. Ela não tem nada fixo ainda, mas está realmente querendo trabalhar isso, e trabalhar o institucional. “Eu acho muito legal estar participando de feiras, muitas delas são internacionais também. Foi uma ano muito intenso, eu trabalhei muito, o livro foi um projeto muito trabalhoso, quem já fez um livro sabe. O livro e as redes sociais também são uma maneira de o meu trabalho viajar por aí. Eu estou com dois vídeos de arte que foram doados para o MACS, então estou olhando para isso, eu quero colocar o trabalho em um outro nível.”

“Black is Beautiful”, 2020, quartzo leitoso, vidro, nanquim, obra de Elisa Stecca – Foto: Divulgação
Nova geração
Para Elisa, tem coisas muito interessantes na arte jovem que vêm sendo apresentadas. Por exemplo, ver como esses artistas jovens estão comprometidos com movimentos que englobam outras pessoas. “Você tem movimentos de artistas que vieram da Cracolândia, eles têm um ateliê lá dentro, o que acho maravilhoso; você tem grupos que estão comprometidos com as causas indígenas; inseridos em um contexto contemporâneo. Você tem artistas que estão saindo dos suportes tradicionais, artistas que trabalham direto com a internet. Ver que existem muitos artistas que atuam fora dos circuitos tradicionais. Isso eu acho uma maravilha.
São Paulo
Moradora da cidade de São Paulo, e próximo da Avenida Paulista, a artista gosta da relação de arte e gastronomia que a cidade oferece. “São Paulo é uma cidade que infinitos anos eu me considerava um paulistana emérita. Eu moro perto da avenida Paulista… Acho que a cidade é de uma generosidade cultural difícil até de acompanhar, porque eu gosto de fazer tudo o que São Paulo tem a oferecer. Eu gosto de ver exposição, de ir ao cinema, comer bem, de encontrar os amigos. Então morando perto da av. Paulista, eu mal dou conta dos aparelhos culturais que têm do lado da minha casa. Acho que a dobradinha que São Paulo faz com arte e gastronomia é feito de forma lindamente.”
Outras coisas que a artista curte fazer na cidade são caminhadas na Serra da Cantareira, ela gosto de olhar a cidade de cima, no Terraço Itália e do edifício Martinelli, para ela são coisas incríveis de se fazer. Gosta também do terraço da Biblioteca Mário de Andrade, local onde expôs por 40 dias. “É é um passeio imperdível para se fazer em São Paulo, você pode descer e almoçar no Paribar ou no Almanara, passeio completo.”